2003-12-10

Estado Civil

Este é um assunto delicado para mim. Cresci convencido que os casais bonitos têm um casamento bonito com a sua familia e os seus amigos bonitos. A partir dai acaba-se a incerteza. "Agora já está!", ouve-se muito... E consigo ainda hoje defender isto com cara séria... mas eu também defendo qualquer coisa - defeito profissional talvez...
Vejo muitas vantagens num casamento à antiga. Gosto do espírito implícito, a reunião, o ritual dos noivos, dos pais, dos convidados, a forma como as pessoas dignificam o dia com a sua presença e como se sentem dignificados com o convite. Continua a ser, diga-se o que se disser, um acto social de extrema relevância. E carrega consigo um peso enorme. Vergonha para quem não reflicta em profundidade o acto do seu casamento.
No entanto nem sempre corre bem. E essa possibilidade existe sempre - mesmo nos namoradinhos mais queridos, mais bem dispostos, mais apaixonados. Muitas vezes os casais têm um bonito casamento a seguir a um bonito namoro, mas corre-lhes mal a união. E o casamento acaba. Não interessa se formalmente ou não, mas o fim de um casamento é um falhanço... é o destruir de um sonho. O mais provável é alguem sair magoado e perder um bocadinho de fé na próxima união.
Parece-me que o que há em abundância de festas há em falta de casamentos espirituais. Não sou um especialista mas olho para muitos casais e não vejo brilho, não vejo intimidade, não vejo partilha e não vejo um projecto. Vejo que lhes é confortável estar juntos. Que se sentem protegidos pela festa. Que lhes fazia falta o reconhecimento da relação. Mas não vejo um casamento espiritual. Não os posso censurar por isso... censuro antes pela emulação, que é aliás, pretexto para momentâneamente se tornarem num casal em intimidade e sentimento grupal criticando o que é diferente, que não entendem e portanto não conseguem imitar.
Por outro lado um casamento espiritual dá muito trabalho... bom, não será trabalho, mas implica algum custo. O custo do investimento em sentimentos. O custo de arriscar a dor. O custo da fidelidade. O custo da felicidade.
Fazia tão bem que os casais se olhassem e falassem longamente de tempos a tempos. Que se sentissem desconfortáveis sempre que se passasse um dia sem namorarem. Que se tornassem exigentes com as suas relações.
E nada disto tira beleza à festa do casamento... pelo contrário - torna-a muito mais bonita. Nem que seja só para os noivos.
Voltarei a este assunto.