2003-11-26

Hum...

Leio avidamente Papiernik. Um Professor de Medicina. Um Obstetra françês muito famoso. Papiernik sabe do que fala e respeito o seu saber e opiniões.
Hoje, a propósito das «grandes etapas da obstetrícia» e sobre a forma como a criança deve vir ao mundo, leio a sua opinião acerca do método de Frédéric Leboyer. Este defendia que a criança deve ter um parto sem stress, passando directamente para o contacto com a Mãe - atrasando o corte do cordão umbilical, das pesagens e afins, de forma a minimizar o choque que é passar de um meio calmo para o nosso mundo com barulhos, luz e movimento.
Papiernik agradeçe o mérito de humanizar o acto do parto mas avança bruscamente:
"Este desejo de afastar a «violência» ao recém-nascido parece-me que faz parte de um modo de pensamento específico dos homens do século XX: tudo se passa como se eles pretendessem absolutamente controlar, manipular, criar outra vez a criança.
Ora, um dos elementos de maturação psíquica da mãe é reconhecer que o seu bebé não é o prolongamento de si mesma mas um ser autónomo, que tem direito a manifestar a sua diferença.
Com as melhores intenções do mundo, temos tendência a esquecer o respeito pela personalidade da criança vindoura. Desejaríamos escolher o seu sexo, proporcionamos-lhe «boa» música quando ainda está in utero, enfim, organizamos-lhe uma entrada na vida ditada por esquemas de pensamento que são sem dúvida reveladores da nossa própria frivolidade e da nossa falta de confiança em nós próprios."
Paro para pensar. Rejeito à partida a nuance socialista do texto. Ofende-me a abstração moral... o desligar... o deixar estar... por mais conservador que me sinta (numa perspectiva Oakeshottiana). Reflicto sobre a frivolidade e falta de confiança... são flagrantes... abraço-as com gosto. Acredito serem pilares tanto da ambição como da inveja. Servem igualmente os dois propósitos se bem que de forma gritantemente oposta.
Faço tenções de preparar os meus filhos para atingirem um tecto que sirva os seus propósitos. Faço tenção de os proteger. Tudo terá o seu tempo. Haverá também um tempo para se distinguirem intelectualmente e encontrar a sua autonomia. Contudo não acredito em roturas radicais - não ao nível de educações preocupadas e presentes. Há com certeza um prolongamento. Acho lindamente que haja!
Era Platão que defendia a separação por altura do parto entre pais e filhos no interesse da sua sociedade ideal. Temia que uma Mãe beneficiasse o seu filho em prejuizo dos outros e isso desvirtuava a procura pelo bem comum da sua organização. Platão foi o primeiro comunista famoso. Não tenho muita simpatia intelectual por ideias comunistas... Esquecem o fundamental - a natureza humana! Uma pessoa procurará sempre servir os seus próprios interesses e os da sua família. Quem não o faz tem defeito. Mudar o mundo para servir os defeituosos?!... Que disparate!