2004-01-02

A Causa

Comecei o ano a defender "A Causa".
Sumário Executivo:
Animada discussão entre um liberal e uma keynesiana. Esforço estéril de tentar convencer pessoas obstinadas com demasiada opinião para partilhar.
Introdução teórica:
Keynes defendia que se podia melhorar o desempenho da economia (e a justiça social) através do seu quimérico multiplicador. Ou seja, se tributarmos generosamente e re-distribuirmos esse produto pelas zonas deficitárias, de interesse comum, subsidiando ineficientes (incluindo pessoas), obtemos um efeito multiplicador na economia que beneficiará o conjunto. 2 exemplos a favor: Expo 98 e Industria Militar Norte-Amercana.
Um liberal defende que a economia atingirá o seu zénite de eficiencia se for permitido ao mercado funcionar e se este reflectir a massa de trocas entre os agentes agindo livremente e na busca do seu melhor interesse. Esta ausência de controlo por parte do estado permite que se forme uma ordem espontânea com uma externalidade positiva gritantemente óbvia - O agente terá de oferecer algo de util ao mercado, para que dele possa retirar algo de util. Não se trabalha por gosto - trabalha-se por necessidade, mas com a consciencia de que se tem de acrescentar algo de positivo à massa de trocas.
Para um keynesiano, esta ausência de controle é deficiente. Consegue-se mais avariando o mercado ligeiramente aqui, para logo de seguida o curar estrondosamente ali. Acredita-se no direito de propriedade e de livre troca "assim-assim". Hoje acredito, amanha não. Pouco lhe interessa se um imposto implica uma perda social (leia-se, um desperdício efectivo de excedente. Ou seja, uma certa quantidade de riqueza que se perde. Não vai para o produtor, para o consumidor nem para o estado - é uma evidência gráfica da microeconomia). Essa perda social será compensada pelo efeito multiplicador do que acabou por ser efectivamente tributado.
Imaginemos que o estado desviou 100 milhões de contos para completar a expo 98 e promover o evento, mas com as receitas de bilheteira, o aumento do turismo, o rejuvenescer de uma parte da cidade se retirou um benefício para a sociedade de 300 milhões de contos - isto foi o mutiplicador que fez!
Um liberal desagrada-se com a ideia de se promover um evento, ou beneficiar uma industria com dinheiros publicos. Isso desvirtua o mercado. Os 100 milhões de contos eram mais bem gastos segundo o critério das pessoas a quem foram tributados. O turismo que se conseguiu para a Expo pode ter canibalizado o turismo do Algarve ou das ilhas por exemplo. O comercio que cresceu no parque das nações canibalizou o comercio do centro da cidade. Os terrenos valorizados prejudicaram construtores de outras zonas... Não cabe ao estado decidir para onde cresce a economia. Não de uma forma consciente pelo menos. A experiencia diz-nos que havendo uma procura relevante de uma determinada necessidade, surgirá uma oferta a dado momento. Havendo uma oferta razoável, surgirá a dada altura uma procura. Decide a ordem espontânea - não um iluminado! Até porque repito... economia por desenho, é feita às costas de negócios (e pessoas) eficientes. São castigadas pela sua eficiencia. São proibidos de devolver o dinheiro que ganharam à economia seguindo necessidades reais.
As necessidades desenhadas são um erro. O estado não é um bom arquitecto. Não é eficiente a gerir recursos. Qualquer empresa ou cooperativa fariam melhor.
Dizia há pouco que o estado pode ajudar de uma forma insconsciente... como? Não se pode negar o efeito multiplicador da politica militar americana. O estado sustenta uma industria bilionária comprando armamento, financiando desenvolvimento, sustentando postos de trabalho e receita fiscal permanente. Externalidade positiva: a ciência evolui muito. Industrias várias beneficiam dos avanços alcançados. Indústrias várias são chamadas a resolver necessidades específicas da industria do armamento.
Não me custa ver o estado como um cliente neste exemplo. O mercado oferece uma solução. Essa solução acaba por servir outros propósitos. Isto acontece com TODAS as indústrias!: Quando o Sr. Ford decidiu começar a construir carros em série mudou invitavelmente o mundo e a economia. Os recursos que utilizou foram igualmente multiplicados (em várias direcções) e nem por isso foi preciso estado para tal acontecer.

Depois a questão social...
Para um keynesiano não choca tributar para subsidiar quem está parado por alguma razão. Segundo eles, o dinheiro que lhes é entregue vai acabar por ser gasto na economia, e isso é melhor que estar parado ou poupado nas mãos das pessoas que pagaram os impostos.
Ou seja, tentam justificar como economicamente racional um gesto puramente social. O que está mal?
As pessoas que pagaram os impostos, viram retirar à sua produção uma certa quantidade de riqueza. Ninguem sabe o que fariam com ela. Poderia ser poupada (para mais tarde gastar ou investir ou para segurança), ou gasta. O mesmo que um subsidiado. A unica diferença é que o subsidiado teve o dinheiro em troca de nada (não produziu para ter riqueza) - existe um prejuizo para a sociedade. Alguem me explica esta pequena charada económica? Qual é a lição que se está a ensinar à sociedade? Sê produtivo e serás castigado, sê improdutivo e serás premiado.
Isto incomoda um liberal.
Mas então e a miséria? não incomoda um liberal?
A mim incomoda, sou sincero. Não tenho muita peninha, nem muita fé nas pessoas, mas acho que não se pode virar simplesmente a cara. Acho que deveria haver um limite abaixo do qual ninguem deveria descer. Não se deve permitir a fome, o frio e a ausência de um sítio para dormir. A safety net de Hayek.
Para colmatar excepções! Não se dá dinheiro... responde-se às necessidades. Duvido que muita gente gostasse de viver indefinidamente apenas a alimentar-se e a passar o tempo. Há sempre muita coisa para fazer, e gente disposta a pagar para que se faça - mesmo na sociedade mais avançada! O desemprego é um conceito estranho numa sociedade liberal, sendo evidente que tem de haver mobilidade de trabalho e capital. Não há trabalho aqui, procura-se ali... Não estão à procura de um padeiro, talvez queiram um leiteiro... Quem tiver alguma coisa para oferecer terá sempre trabalho. Acho graça falar-se de crise e desemprego e conhecer pessoas com vários empregos. Que escassez é esta que só serve para alguns?
Explica-se facilmente: sobrevive quem se preparou, quem se tornou essencial, quem identificou uma necessidade. Ciclicamente as exigências mudarão e com elas haverá adaptações. As pessoas têm de se adaptar. É do seu interesse e do interesse da sociedade. O estado não pode prever os ciclos nem as alterações e nunca resolverá os problemas atirando dinheiro para cima. Mas isto sou eu a falar, não sei... posso estar enganado!