2003-12-24

Natal

Que coisa bonita é o mercado. É a minha religião favorita - louvar a divindade do mercado! Reconhecer as suas dádivas. Apreciar a sua perfeição. Meditar sobre as suas (escassas) falhas.
O Natal é um bom momento para sentir como se funciona num mercado relativamente livre. É bonito ver as carrinhas estacionadas em segunda fila abastecendo cafés, lojas e restaurantes. É bonito ver os comerciantes preocupados com os seus stocks e tentando adaptar a sua oferta à procura. Por outro lado ver as pessoas tentando ajustar o que procuram com um custo que lhes seja aceitável. Tomar nota da publicidade tentando ganhar quota para uns produtos, lançar outros. Tentando criar uma necessidade ou estudando uma oportunidade. Um ajuste contínuo de oferta e procura conseguindo infinitas intercepções! É bonito. Sempre que se dá uma dessas intercepções conseguem-se 2 agentes satisfeitos. Esqueçamos os compradores contrariados, mas mesmo esses estão a tomar decisões racionais, equilibrando benefício e custo. Comprar aquela garrafa de Sctoch para o chefe, por mais agoniante que possa parecer, compensa sempre o custo do arrependimento ou du pudor de não oferecer. Se não compensasse a pessoa não comprava.
A única coisa que não compramos racionalmente são os impressos para o fisco. Somos obrigados. E somos obrigados tambem a comprar a paz de espírito ao pagar os respectivos impostos. Até aqui a economia se impõe. Existe um custo associado à fuga fiscal. Para alguns esse custo é aceitável e fica aquem do benefício. Para outros não. Existe uma certa moral associada mas fica para um post futuro.
Voltando ao mercado - toda esta entropia que estive a descrever gera actividade económica, gera empregos, há transferencias de capital e trabalho. As pessoas trocam livremente trabalho por bem estar. Bom... quase livremente. Existem impostos e taxas que adoeçem o sistema. Existe uma perda social grave. Uma perda que nem estado nem agentes aproveitam. Evapora-se pelo simples facto de não se deixar o mercado funcionar. São as escolhas de uma sociedade com um estado demasiado presente. O estado terá de cobrar impostos para pagar os 700 000 salários que contratou. Aquelas pessoas têm com certeza direito a um salário, mas estarão a ser agentes plenos? Trocam "trabalho" por capital, e capital por bem estar, mas o trabalho que oferecem acrescenta valor ao mercado? Eu acredito que não.
Acredito que um estado se deve cingir a funções básicas de administração interna e justiça. O resto, o mercado faz melhor e mais barato. A motivação geral é superior. Existe criatividade. Existe variedade.
Se o Natal de 2003 está a ser bonito, imaginem um assim...