2003-12-17

Thin red line

As provocações têm sido muitas. Dizem as vozes que eu escrevo pouco, superficialmente e sem polémica. O contrário do que sempre fiz. Por outro lado não divulgo o blog e portanto perco vergonhosamente a guerra das audiências.
As audiências preocupam-me realmente... não posso ter demasiada gente a ler o meu blog. Não agora pelo menos. As desculpas são várias, mas a mais importante é que me falta disponibilidade intelectual.
Nos ultimos meses tenho lido demasiados autores. Isso provoca (e ainda bem) uma entropia incontrolável, e macera irremediavelmente a minha auto-confiança. Os blogs do dia a dia também são muito bons. Quando acabo a minha pequena volta diária fico sem nada para dizer. Nada que mereça ser repetido de uma forma inferior ao que os senhores (e senhora) dos links aqui ao lado já escreveram.
Podia perfeitamente masturbar as ideias por mais uma dezena de parágrafos mas olho atento me desmascaria...
No entanto há coisas pouco faladas e com interesse. E hoje o assunto vai ter a ver com sexo. Não vou falar de sexo mas da barreira invisível entre o razoável e o proibido. Ler perigoso em vez de proibido.
O sexo é uma coisa boa. Quem não concordar faça o favor de ignorar este post.
É bom desde que traga prazer aos envolvidos, desde que seja de comum acordo, desde que não incomode ninguem, desde que tenhamos idade para sabermos o que implica.
As restrições constituintes não são muitas portanto. Existem outras: de ordem física, de ordem moral e de ordem social. Vou deixar essas ordem por desdobrar. Hoje interessa-me mais falar sobre a linha que um casal desenha como limite à sua exploração sexual. Aquela fronteira que tacitamente se aceitou, vencidas as barreiras iniciais da falta de intimidade e conhecimento.
A minha opinião é que essas linhas são saudáveis, e são tanto mais úteis quanto mais foram faladas e/ou negociadas. Fazer disso tabu parece-me um mau caminho. Manter vergonhas ou desejos escondidos parece-me violento e só pode piorar com o tempo, com a vivência, com as discussões.
Falar poderá não ser tão fácil como parece. Primeiro porque muitas vezes reina o desconhecimento sobre o que o outro quer, gosta, sabe, já fez, não fez. Depois porque não ter qualquer pudor em falar de tudo distancia as pessoas - obriga-as a defender a sua auto-estima, mesmo que seja de uma forma pouco consciente. Tambem para falar de sexo é preciso algum afecto. Num casal, bem entendido! Encontros fugases e affaris são outro assunto.
Falando ou não a linha existe. E põe-se a questão: devia existir? será assim tão mau ir experimentanto pequenas evoluções em todas as direcções? Ou experimentar tudo de uma vez porque não? Tentar vencer as rotinas... não deixar nada por encarar... não reprimir desejos... não arriscar desejos fora da relação...
A mim parece-me bem que exista essa linha - pouco me interessa o seu perimetro. Cada um saberá o que acha razoável e uma boa relação afecto/prazer(físico). Agora sem linha, esse rácio tenderá inevitavelmente para zero.
A procura por algo diferente (tem de ser necessariamente diferente), novo, inesperado, louco para potenciar novos prazeres físicos ou luxurio-psicológicos, travará necessariamente a evolução do afecto, e a dado momento aparecerá a abstracção. Pouco importa quem está ali à nossa frente, o momento é de gozo, de superar a maluquice de ontem, de ultrapassar o filme, de tocar o irracional. Não há linha. Acharão porventura os mais rebeldes que isso é uma cena mais à frente... libertar de complexos, atingir o nirvana. Não sei quem está certo.
Acredito que o nirvana se atinge trabalhando o numerador do rácio de que falei. A linha não precisa ser explicita mas o problema tambem nunca se põe.
Tento guardar algum respeito pelos defensores da nova tendência de swing. Talvez não passe de um púdico ciumento, mas repugna-me a ideia da troca de parceiros. Parece-me pouco higiénico a todos os níveis por um lado, e a assumpção de uma frustração sexual por outro. É claro que se uma pessoa tem um parceiro que não a completa, faz todo o sentido que o troque por outros. Eles dizem que é só a nível sexual... que no resto a relação deles funciona. Mas porque não partilham os filhos também. Haverá melhores mães e pais por aí... quem sabe? E melhores cozinheiros. E pessoas com melhor humor... com quem nos identifiquemos mais intelectualmente... Eh pá... e que tal separarem-se e tentarem encontrar alguem que não os deixe frustrados? I'm not judging!... é uma duvida que me visita de vez em quando. Admito que seja uma limitação minha.
Por outro lado aceito que a fortuna não chega a todos. Nem todos podem ter um parceiro atraente, atlético, com uma pele cheirosa e suave, que beije de uma forma envolvente e afrodisíaca. Ou com cabeças estimulantes e apaixonantes que substituam ou se adicionem aos atributos físicos.
A televisão não ajuda. A redefinição moderna do que é bonito e do que não é deixa muita gente de fora.
Somos inundados com verdadeiros ensaios de beleza e estilo e dificilmente se consegue ser original. Às vezes o melhor é nem pensar muito nisso.
Vou aguardar reacções e voltarei a este assunto.