2003-12-12

Purga

Hoje o dia não está a correr grande coisa. Quando fico assim mal disposto põem-se duas alternativas muito claras: ir correr ou ir para a Fnac. Já me estive aqui a perguntar qual a que se melhor adptava. Fiz inclusive uma longa análise de prós e contras com as respectivas externalidades. Compilei umas linhas de código e deixei o computador a fazer iteradas enquanto fazia o almoço. O computador deidiu que eu devia ir correr. Obviamente... não vou! Está um frio lixado.
Vou portanto para a Fnac ser o pelintra de sempre que se senta a ler o que não vai comprar. Não tenho ponta de remorso... já lá deixei uma fortuna!
Mesmo assim não é bem o que me apetece fazer. Ler na Fnac dá-me realmente um certo gozo e costumo sentir-me melhor, mas hoje via-me mais a enfardar umas estreias seguidas - mas corro sempre o risco de uma não prestar e isso agravaria a minha situação.
Nitidamente a solução ideal, se possível, seria purgar 5% de massa encefálica. Os meus amigos Engenheiros concordariam instantaneamente que é uma solução higiénica e eficaz. Os outros merecem uma explicação. O conceito de purga é fundamental numa instalação química. Volta e meia aparecem contaminantes ou impurezas/inertes que circulam no sistema e que não podemos deixar acumular. Muitas vezes são materiais que não conseguimos, ou é muito caro, separar. Como têm de sair fazemos uma purga, que não é mais que uma torneira que abrimos, por onde sai o contaminante e obviamente, uma porção do nosso produto semi-transformado. Se considerarmos que o contaminante estava numa proporção de 1 para 100 no nosso fluxo, estamos a deitar fora 99 partes de uma coisa que tem valor para nos livrarmos de 1 parte de uma coisa que não tem valor e que pelo contrário tira valor.
Este conceito custa um bocadinho a interiorizar: então mas que raio? vou estragar isto tudo para me desfazer de um inerte? No diagrama de fluxo faz todo o sentido, e na vida real também... Muitas vezes para nos livrarmos de uma coisa má, temos de deixar ir muitas coisas boas, e assim de repente lembro-me do caso obvio de um namoro de faculdade.
Descontando as cicatrizes que ficam e que têm de ficar, a dada altura temos mesmo de nos livrar dos contaminantes e com isso vão muitas das boas recordações... às tantas, elas próprias fazem parte da contaminação. O próprio acto de limpar uma ferida ilustra essa situação - o sangue sai, e nem todo está sujo, mas nem por isso o podemos aproveitar.
Às vezes gostava de poder purgar certas coisas da minha vida e nem sempre tenho coragem. O risco de perder coisas boas assusta-me, e nunca sei se vou ficar melhor ou pior que antes.
Acabo por procurar optimos de Pareto em cada uma dessas decisões. Apenas mudarei para uma situação que ao melhorar o ponto A não piore o ponto B. Isto só prova que um Economista nunca será feliz... ;)