2004-09-19

Maldades

Ser bebé não pode ser fácil. A dependência... mesmo que natural, tem de ser desgastante, às vezes até deve ser desesperante.
Mas não é sobre isso que quero falar. Esta semana ocorreu-me que o natural desenrolar da paternidade (e da maternidade) implica obrigatoriamente algum trauma na interacção com os filhos. Algum desse trauma será fruto da ingorancia. Outro será por negligência ou incapacidade de fazer melhor, e outro ainda vem do regular fluxo do que se espera dos pais... Lavar, vestir, alimentar, transportar, adormecer, acalmar, vacinar.
A minha deficiente sensibilidade para dar conta do que um bebé sente chage no entanto para perceber que todas estas actividades, por mais agradáveis que se venham a tornar, são geradoras de ansiedade, de susto, de violentação do normal decorrer de um qualquer minuto. E por isso digo... Farto-me de fazer maldades ao meu filho... e isso preocupa-me.
Não me preocupa ao ponto de me congelar. É claro que as coisas têm de ser feitas. E é claro que por mais traumáticas que sejam serão esquecidas nos segundos seguintes, mas isso não me descansa. Não o poderei compensar de nenhuma forma? Haverá uma maneira de o fazer confiar em mim de forma a evitar essas ansiedades e sustos?

É que nesta vacinação dos 2 meses espetaram-lhe duas valentes facadas nas perninhas e era eu que o estava a segurar. Foi um choro dilacerante. Desesperado. De profunda dor e desilusão. Tocou-me fundo...
O choro não durou mais que 30 segundos. Rapidamente se acalmou e inclusive voltou a dormir bem rápido.
Passados 4 dias ainda se sente muito bem o hematoma de uma das pernas. E sei que ainda lhe doi quando se toca. Faz uma expressão admirada mas valente. Fica à espera de saber se o vou magoar outra vez ou se só lhe vou consolar a ferida.
Sonto que ainda é bastante frágil a confiança dele em nós (pais). Se tem fome ainda chora, mesmo que o consolemos. Se tem sono ainda faz birra... continuamos a ser os culpados de tudo o que o incomoda. Sei que isso está relacionado com as maldades, mas tambem com a sua imaturidade e instintos primários de sobrevivência... Não deixa de me preocupar.