2004-10-14

Empreendedorismo

Ultimamente tenho saído de casa bastante cedo. Faço uma passagem rápida por casa da minha mãe para cravar uma ama qualificada (a minha irmã) antes de ir aos meus afazeres. É um caminho muito curto de carro, e tenho a impressão que o faço quase sempre a dormir. Hoje porém não foi assim. Logo uns metros a seguir à saída da minha garagem reparo num "arrumador". Temos disto aos montes cá em Lisboa. Mas não são todos como este... Não! Este arrumador estava às 7 e pouco da manhã fresquinho e pronto para um longo e duro dia de trabalho. O seu trabalho consiste em apontar lugares numa avenida gigante onde qualquer vaga se vê a 100 metros de distância. E os lugares são sempre muitos, e bem falta fazem dado que estou a falar da zona onde se situam as torres de Lisboa (Galpenergia, BPI, AMS, British Hospital, Ex-Vodafone).
Bom, mas lá estava ele bem cedinho como dizia. Criando as suas oportunidades. Guardando o seu negócio. Fazendo as suas contas. Um verdadeiro empreendedor! - Identificou um mercado, segmentou-o, conquistou um espaço, tomou-o, e vai de disponibilizar um valioso serviço.
Gabo-lhe a originalidade e o esforço.
Lembrei sem saudade uns cursos de formação que dei sobre o assunto. Tratava-se de reintegrar no mercado de trabalho pessoas que tinham perdido o emprego num processo negociado. Os nossos serviços eram pagos pelo antigo empregador. Curioso haver sempre um esperto a falar no fenómeno dos arrumadores ou noutra forma semelhante de parasitar a sociedade... sempre o tipo cujo despedimento era mais evidente e cuja indemnização se tornava mais escandalosa face aos seus colegas. O esperto tomava como exemplo de empreendedorismo qualquer actividade mafiosa que lhe permitisse qualquer ganho, desde que não houvesse trabalho ou necessidade de investimento (que por sua vez é trabalho acumulado) – arrumar carros, lançar um esquema em pirâmide, vender banha da cobra no interior do país.
Se lhes tentasse mostrar um caminho diferente monopolizavam a sessão com argumentações parvas de que “aquilo” é que era bom. É difícil ensinar alguém que já sabe tudo. Frustra. A solução é obviamente nem tentar. E de repente bateu-me que provavelmente é o que todos sentimos quando nos deparamos com um arrumador – frustrados, e sem vontade de reagir…

2 Comments:

At 7:56 da tarde, Blogger Rui said...

arrumar carros eh bom? das moedinha ao caroucho qdo ele "te arruma" o carro ou sais sem prestar atençao ao que ele vai dizendo pela boca com 4 dentes?
ficas com medo que ele te risque o carro, ou ameaças o gajo de porrada mal sais de lah?

odeio carouchos!

 
At 1:19 da manhã, Blogger Nuno said...

Rui, e odeioputos: A minha verdadeira opinião sobre os arrumadores terá de permanecer comigo. Este blog não é bem a mesa do café. Pode-se dizer que ainda tenho um certo pudor para me pronunciar livremente sobre certos assuntos em público.

Bom... o Rui sabe isso. Eu costumo desabafar precisamente no seu blog... ;)

 

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