2006-07-24

Voltemos ao básico

Se fizerem o favor de ler este artigo do Público ficarão em condições de melhor perceber este post.
Mas resumindo:
O Bloco de Esquerda planeia fazer uma "marcha pelo emprego" a partir de 1 de Setembro. Estou desde já ansioso com o prespectivas de uma marcha pleo emprego. Recordo-me de ter estudado uns valentes calhamaços sobre economia e sobre gestão e em momento algum se discorre sobre os benefícios de uma marcha sobre o emprego. Ou então escapou-me, mas adiante. Estou certo que no fim da marcha o Bloco poderá orgulhosamente anunciar os resultados praticos sobre o emprego.
Bom, mas a ideia chave a partilhar durante esta marcha é a redução do horário de trabalho para as 36 horas semanais. Devem ter pensado que se as pessoas trabalharem menos horas, ficará no fim da semana trabalho por fazer, o que levará as empresas a contratar mais colaboradores, diminuindo assim o desemprego. Eu fico esmagado... é realmente engenhoso!
Mais engraçadp ainda é que o Bloco quer fazer esta redução de horário sem perda de vencimento. Portanto, trabalha-se menos mas ganha-se o mesmo! Isto é o máximo. Eu pensava que isto só fazia sentido se houvesse um ganho de produtividade de exactamente 10% (4 horas de produção a mais por cada 40 horas trabalhadas). Mas parece que não é assim. Pode fazer-se. As empresas encarregam-se de encontrar dinheiro para pagar mais 4 horas semanais a outra pessoa. Em troca de nada. Um paradoxo que nunca vi resolvido nos citados calhamaços. Distracção minha.
Então assim a nossa economia passaria a pagar mais 4 horas semanais de salários (mais formação, mais impostos, etc) exactamente pela mesma produção. Ora mais isso ímplica uma descida da nossa produtividade que já é das mais baixas da União Europeia. Não deviamos tentar aproximar-nos ao invés de nos afastarmos? Os livros dizem que sim, mas o Bloco acha que não. Vou manter o espírito aberto.

Outra medida proposta é o "aumento da taxa social única para as empresas que abusam das horas extraordinárias". Está bem visto. Se for mais caro para a empresa recorrer às horas extraordinárias, elas com certeza que irão contratar mais pessoal, e isso diminui o desemprego! Não me tinha ocorrido...
Bom, não deve interessar que as nossas taxas já sejam das mais altas e das mais mal gastas. E que os custos de contratar são tão elevados em portugal (porque temos de contar à partida com os elevados custos de despedir) que é muito mais interessante contratar nos outros países.

"Proibir os planos de despedimentos ou rescisões voluntárias em empresas com resultados líquidos positivos"
"Limitar o trabalho a prazo, termo incerto ou recibo à duração máxima de um ano "

Mas é exactamente isto que as empresas necessitam: menos flexibilidade e maiores custos com o pessoal! Isso torna a nossa economia muito mais forte e competitiva! Claro que torna! Já que as nossas empresas passarão a ter melhores resultados e novas possibilidades de investimento. É claro que estamos há 20 anos a ser ultrapassados por países que estão a fazer precisamente o contrário, mas isso não invalida o génio destas medidas.

"O aumento da escolaridade obrigatória para os 12 anos e a criação de um contrato formação-emprego, que dá a todos os participantes em programas de reconversão ou qualificação profissional um contrato de emprego por pelo menos três anos"

3 anos! Raios me partam. É só fazer o cursinho e nasce um contrato por _pelo menos 3 anos_! Isso é fantástico! Aquele empregozinho criado por decreto, para fazer companhia à produtividade alterada por decreto, e o impedimento à livre troca de trabalho no mercado por decreto. Isto são tudo coisinhas boas, que infelizmente não aparecem nos livros.
Eu estive a perder o meu tempo a ler os calhamaços. Um Estado gerido pelo Bloco toma conta de nós todos e das nossas empresas. Deixam de fazer falta gestores profissionais. Felizmente haverão aqueles cursinhos para nos tornar mais aptos, e os consequentes contratos de 3 anos. Isto é mel!

Mais mel:

“São propostas muito inovadoras e que transformam a forma como é concebido o emprego em Portugal” (Francisco Louçã)

"A marcha, que será “a maior iniciativa organizada pelo BE”, terá também uma forte componente popular e cultural para mostrar que “é possível falar de emprego com imaginação”

"De acordo com um “dossier” distribuído pelo BE, participarão nesta marcha “dezenas de animadores e associações culturais”, havendo lugar para teatro de rua, fotografia, participação de actores, de novos grupos musicais e de estreias cinematográficas"

Animadores e Associações Culturais. Teatro de rua e grupos musicais. É esse o caminho meus senhores!... Marchem pelo emprego!