2004-01-15

Enfim...

Hoje vamos (des)aprender um bocadinho sobre Gestão de Operações. Queremos resolver um problema de trânsito.
Perguntamos a um Inglês:
-Inglês! Olha... se tu fores num carro de A para B, e a tua via estiver livre, e tu fores a 60 km por hora e tiveres um percurso de 10 km para fazer quanto tempo demoras?
-Exactly 10 minutes

Perguntamos agora a um Português:
-Português! Olha... se tu fores num carro de A para B, e a tua via estiver livre, e tu fores a 60 km por hora e tiveres um percurso de 10 km para fazer quanto tempo demoras?
-Bom... isso é uma pergunta difícil, teriamos de entrar em conta com vários factores. Quer numa rua de uma cidade, numa via-rápida, numa auto-estrada?
- Pode ser ali na Norte-Sul, na zona das 3 faixas de rodagem. Relembro, a sua via está livre.
-Então é fácil! Se houver um acidente na outra via, terei de esperar pela minha vez para poder ver e isso poderá atrasar um bocadinho, se não houver acidente aproveito para ligar para alguem, se ninguem atender então é que sigo o meu caminho e em 10 minutos, mais coisa menos coisa devo chegar ao destino.

Pois claro! Isto não estava no Heizer&Render... Mas explica-se com um chavão de Estratégia: Ambiguidade Causal!
Quando duas fábricas iguais, produzindo o mesmo produto nas mesma condições, têm um output diferente e ninguem sabe porquê... isso chama-se ambiguidade causal. A moral da estória é que a fábrica que tem o melhor output deve-se deixar estar sossegada - mesmo não sabendo o que é não deixa de ter uma vantagem competitiva.

Ora eu não encontro outra explicação para os nossos processos parecerem tão mais complexos que os dos nossos concorrentes, que só por mero acaso fazem mais e melhor, com menos que nós.
Não será com certeza uma questão de civismo - há labregos em todo o lado! Nem uma deseconomia de escala - pois isso só jogaria a nosso favor! Muito menos pode ser uma questão de aptidão técnica - afinal nós temos os melhores condutores. Também não me parece que as vidas dos portugueses sejam tão desinteressantes que se preenchem com a desgraça do vizinho.
Não consigo ironizar. É tudo isto e é muito mais! É a mais básica ausência de auto-estima e coerência! Quantas e quantas pessoas não vêm desde lá atrás berrando com os atados lá à frente que não conseguem contornar um acidentezito? E na altura de passarem... ja agora gastam-se 30 segundos para ver bem o que aconteceu, rodando nas suas cabeças um filme exacto dos acontecimentos, calculando com exactidão os estragos causados.
É que note-se... muitas vezes não há qualquer estrangulamento físico - a estrada está livre e os carros aceleram poderosamente logo que a vista fica impedida!
Xiça...

Bom... tinha prometido uma lição de GO e aqui vai: um processo demorará tanto mais quanto mais morosos forem os seus passos limitantes. Qualquer tentativa de optimização terá de passar obrigatoriamente pela melhoria destes passos ou pelo redesenhar de um novo caminho crítico.
Tudo se resolve com um bocadinho de pragmatismo e civismo: Estes 30 segundos terão realmente algum efeito negativo no processo? Caro curioso... sim! Os 30 segundos que o senhor perde tentando enriquecer a sua conversa de jantar, têm um custo de umas dezenas de horas-homem. Convirá que mesmo com os salários magrinhos dos protugueses estamos a falar de uma pequena fortuna. Fortuna essa multiplicada por tantos quantos gastarem os mesmos trinta segundos que o senhor gastou. Alem disso... não será melhor ver os acidentes na televisão, aprofundando assim a sua cultura sem atrapalhar ninguem?
Faça lá esse favorzinho.