2004-07-28

My Boy...

Que interessa a beleza, mas que bonito é...
Já nasceu o meu filho!

Tudo mudou.
Nada no mundo nos prepara para a carga emocional que temos de suportar. Tudo está bem e apetece chorar. Nada se passa e apetece rir...

Em breve vai fazer um mês e já não sei para onde foram todos os dias até hoje. É tudo tão rápido. É grande o medo e a ansiedade com a sua fragilidade e queremos que o tempo passe para ele crescer e ganhar defesas, e para que aprenda a falar e possamos passar às lições teóricas da vida. Por outro lado não se quer que o tempo passe para poder saborear bem cada momento, mesmo que seja um momento de sono ou de birra... é incrivel como ele consegue ser tão bonito a chorar... é perturbante!

Os manuais perdem todo o valor quando à nossa frente está uma criatura com pouco mais de 3 kilos que temos de segurar muito bem para não se desmontar toda. Ninguem se lembra de teorias ou conselhos, não dá tempo nem há cabeça. Vale o instinto e o bom senso.

O bebé é pequenino, e eu não devo ser um bom juiz, mas é evidente que é inteligente! Vê-se nos olhos como coloca mil perguntas e a forma calma como as gere na cabeça, como franze o sobrolho se alguma coisa o perturba, como evita o choro sempre que pode, como sorri divinamente sempre que descobre um prazer novo...
Não esperava nada disto tão cedo, e eu sempre esperei demais!

Fico sem palavras se decido contar-lhe uma história ou fazer uma piada. Sinto uma responsabilidade muito maior do que com qualquer estranho, e fica dificil ganhar distancia porque a minha própria cabeça está a voar em todas as direcções. Espero perder este pudor com o tempo e espero conquistar alguma objectividade sob pena de não lhe conseguir passar o que guardei para lhe passar.

Eu vou ser um agente de transferencia. Não estou tão preocupado com os meus feitos como os que posso potenciar nos  meus filhos. É um jogo de equipa.. escolher quem está em melhores condições para tocar o ceu e criar pontos de apoio para o proporcionar. A alternativa seria pensar em mim e numa carreira, adiando os filhos ou deixando que fizessem por si o que conseguissem. Isso não tem nada de original... como não tem o desleixo total deixado em herança nas familias que eu considero... pobres.

A imagem do ciclismo é muito boa... nas equipes de alta competição, existem lebres para puxar pelo atleta mais constante, existem aguadeiros para ir buscar alimento à cauda do pelotão e levá-lo aos atletas da frente, existem elementos de blindagem para proteger o escolhido...tudo se faz para que um determidado homem ganhe, e com isso... a equipa. Todos a correr por si perderiam. É o belo socialismo familiar... funciona se formos poucos e estivermos ligados por laços fortes, mas adiante.

Às vezes sou criticado com esta minha aparente desistencia em prol dos meus filhos. Nada mais errado. Eu sou escandalosamente ambicioso, e continuo à procura da fortuna e da glória... mas o dinheiro é uma coisa muito fácil de se conseguir, e não exige nada parecido com uma carreira (aliás, uma carreira é a melhor forma de esmagar a capacidade de alguem... é a minha opinião), e a glória... enfim... é uma grandeza tudo menos universal. Para uns poderá ser ter uma casa bonita e poder viajar 2 vezes por ano, eventualmente atingir um cargo directivo numa empresa e ter uma equipe grande para gerir - para outros poderá ser ler os livros certos, experimentar as coisas certas e criar condições para os filhos se tornarem em pontos de acumulação e agentes de mudança.
Muito gozo me vai dar vê-los espalhar o meu nome pelas melhores razões, e mais ainda quando sentir que fiz escolhas certas que pudessem determinar o seu sucesso, mesmo que marginalmente. Isso para mim, é a glória.
E a vantagem é que para os poder ajudar tenho de aprender a maior quantidade possível do saber acumulado da humanidade... e para poder responder às suas perguntas vou no processo aprender a responder às minhas.

"Bom, e o que sobra?" perguntam muitas vezes os meus amigos. Querem saber o que faço eu com tudo o que nunca vou precisar de usar, aqueles livros paralelos que não fizeram história?...Nada sobra! Que disparate pensar que se pode ter conhecimento a mais. Haverá riqueza maior que saber como os outros pensam e o destilar do que aprenderam em meia dúzia de páginas?!
Eu percebo que se tivesse um emprego não teria tempo nem cabeça para certos livros ou blogs, mas para que é que eu quero um emprego? E que emprego é que me pagaria o que eu preciso para abdicar do que tenho sem ele? não mais que 2 ou 3... e nenhum em portugal.

Acho que pessoas poupadas que saibam fazer alguma coisa com valor acrescentado não se devem preocupar com rendimentos seguros. Ainda para mais se os pais tiveram sucesso dessa forma. 

E para já vou ser escandalosamente bem pago durante pelo menos um ano, que foi o tempo que decidimos (eu e a minha mulher) dar exclusivamente ao nosso filho. Pago em géneros, claro... presentes e futuros. Nos intervalos (poucos, curtos e desfasados) vamos ganhar dinheiro... O trabalho não passa disso para mim... um intervalo da vida. Um sacrifício para se poder viver.
Deve ser por isso que eu sou um liberal. Custa-me trabalhar, mas tenho de o fazer. Quando me obrigam a trabalhar mais para tapar a preguiça de alguem revolto-me profundamente.

Vou tentar guardar uns intervalos para postar tambem.

Agradeco as felicitações e as prendas (tantas prendas), os mails e as flores. As colegas da minha mãe bateram o record de generosidade e eu prometo uma visita para breve com o bebé.