2005-09-30

Roubado do Balsfémias

As Cunhas da Função Pública

Tive recentemente uma pequena troca de opiniões com uma pessoa com uma visão ética/moral picaresca.
É uma pessoa sensível ao problemas dos outros: generosa, defensora dos mais fracos e oprimidos, impressionável com as desigualdades e injustiças da nossa sociedade... e no entanto não se choca/concorda/aceita/promove (riscar o que não interessa) a inofensiva cunha na função pública.
Mas será assim tão inofensiva? Mesmo quando há tanta cunha no privado? Evidente que não!
No privado, o dono/gerente/gestor, faz o que lhe parece melhor e bem lhe apetece, e ninguem tem nada a ver com isso. Até a coisa dar asneira (e mesmo depois de dar) fica tudo contente. Se não resultar, sempre se aprende qualquer coisa. Regra geral, escolhas de colaboradores ad-hoc, ou têm um mínimo de critério, ou o mercado corrige o disparate.
A cunha no privado chama-se networking... nas grandes empresas é feita com um certo estilo e promove a mobilidade de pessoas ocupadas!
Então e porque é que não se deve usar na função pública?
Bom... a função pública serve para servir os cidadãos. Por razões obvias tem de ser obrigatoriamente um monopólio - ou seja, o cidadão não pode escolher se vai ser servido por este ou aquele funcionário - convem que seja o melhor que a gestão pública permita, dado as disponibilidades do mercado de trabalho.
Ora, se há pessoas livres, e se há vagas para colocar algumas delas, e como está em causa o interesse de todos - a função pública deve seriar e seleccionar os melhores. Parece-me um raciocínio simples! E é claro que essa é a forma mais justa (é tambem a única que é justa mas adiante). Quando Sicrano usa a sua influencia (ou a do pai ou da mãe ou do amigo)para ir pedir uma cunha para Beltrano está a subtrair todos os potenciais candidatos ao lugar do seu direito ao trabalho, ou pelo menos à tentativa de conseguir o trabalho!
Ora, se o Sicrano é um escroque que não se preocupa com os outros e usa o seu poder indevidamente, isso não surpreende ninguem, agora se o Sicrano for uma pessoa moralmente superior, defensor e solidário com o mais fraco - não vai com certeza pisá-lo por interesse pessoal!
A menos que o Sicrano sofra de uma disfunção bipolar ou pior, que diga uma coisa mas acredite no contrário.
Sicrano, se o pomar não é seu, não pode andar a oferecer maçãs...

E o Beltrano?
Novamente... uma pessoa moralmente superior não aceita uma maçã que não lhe pertence por direito. Até porque uma pessoa moralmente superior se pergunta sempre: Será que cheguei aqui pelo meu próprio pé ou ando aqui à boleia do Sicrano? Se eu sou realmente útil, venha de lá esse concurso que eu estou preparado para ele!
Beltrano, se o mercado não o quis, parece-lhe bem andar a comer a maçã dos outros?

2005-09-26

Mas isto só vendo - contado ninguem acredita!

É natural um pai gostar de um filho. É natural que goste tanto que perca a imparcialidade nas suas análises paternais - tambem caramba, não pode haver imparcialidade se nós somos uma das partes! Um pai normal vai sempre achar o seu filho bonito e inteligente, e naturalmente vai ficar encantado com as suas proezas.
Eu continuo convicto que o meu filho está um bocadinho à frente e não quero que me esclarecam se tenho ou não razão. O meu papel é este mesmo - encantar-me com ele, independentemente da educação que lhe devo e que cumprirei.
Acabado este pequeno intróito, cabe-me registar que com pouco menos de 15 meses, o meu filho é um poderoso computador. É fascinante como aprende novas palavras todos os dias e como já percebe instruções nada básicas e as executa cheio de orgulho. Às vezes ultrapassa mesmo o que lhe é pedido e enriquece imenso a brincadeira. E depois, longe de ser um daqueles bebés fortalhaços, é mesmo muito ágil e destemido. Passo incontáveis minutos só a olhar para ele, a tentar perceber que lição poderá ele tirar da porta de um armário - que fascínio é aquele que o leva a abri-la e fecha-la durante 15 minutos!? E depois... puff! Não lhe liga nenhuma durante dias e vai fazer outra coisa com o mesmo afinco e boa disposição.
Tem um interesse preocupante por aspiradores e material de limpeza diverso. Algo que não puxou ao pai que é pouco mais arrumado e limpo que um tufão.
Começam a ser evidentes as manhas da idade que já esperava - o explorar dos limites, a curiosidade do proibido, a sedução pelo sorriso ou pela gracinha.
Passo o dia a receber presentes: o comando do ar condicionado, depois as chaves do carro, mais tarde um chinelo, depois o outro. E não é um pedido para brincar - rapidamente me foge para ir buscar mais qualquer coisa, ou então esquece-se e entretem-se com uma migalha, que acaba por segurar com muito cuidado e pôr no lixo (abrindo a tampa com a outra mão e olhando à volta em busca de aprovação).
Ando maluco para que comece a falar...