2004-08-25

Azares

Ontem saí de casa à pressa. Deixei a chave da minha mulher espetada na fechadura, do lado de dentro da porta...

Fomos à nossa vida e quando voltamos já estava a ficar apertado para dar de comer ao bebé. Era preciso dar-lhe banho antes e esterlizar biberão, etc e tal. Claro que a chave não entrava, e claro que não tinha ferramenta nenhuma para tentar arrombar a fechadura. Ainda tentei com um cartão de crédito e com um clip que consegui desencantar mas não chegou.

O bebé entratanto começou a chorar e era preciso consolá-lo. Acabei por ir a casa da minha mãe pôr o resto da família e encher os bolsos de ferramentas. Voltei a tentar e nada. Ainda não tinha a ferramenta certa, a porta não dava sinal de querer abrir. (Nota: um serralheiro custa uma fortuna, ainda para mais em urgência, e eu tenho a pretensão de ser um habilidoso... não queria desistir!).
Voltei de novo a casa da minha mãe, mas antes disso andei a procura de uma farmácia de serviço para comprar suplemento e biberão de urgência, mais o remédio para as cólicas. Ora na farmácia iam precisar de dinheiro e só por acaso eu tinha dinheiro no carro, já que o cartão ficou preso no Multibanco umas horas antes.
Estava o dia a ficar bem compostinho quando me apercebo pelo rádio que o Benfica estava eliminado da liga dos campeões por 3-0. Raios me partam... a paciencia a esgotar-se e tudo a correr mal. Tive a clara sensação de que tudo podia piorar entre viagens de carro e bricolages numa fechadura sensível.

Tudo acabou por se compôr. O bebé comeu. Eu fui com muita calma abrir a porta. Hoje de manhã fui buscar o cartão ao banco. O leite e biberão em duplicado não são problema, não passaram de um custo diferido.
O Benfica continua eliminado mas isso tem uma importância relativa na minha vida de hoje.

Não deixou de ser um dia lixado...

2004-08-18

Inspiração

do Lat. inspiratione

s. f., acto ou efeito de inspirar ou de ser inspirado;

absorção do ar para os pulmões;
sugestão;
entusiasmo criador;
insuflação divina;
estro;
influxo.
(fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx)
Foi o que senti ao ler a Rita no seu excelente blog Mãe Galinha. E quando digo ler, é ler todinho, nesta linda terça feira que agora acaba. E que bem empregue foi o meu tempo...
A Rita conta os seus dias e dialogos com as três filhas, a Maria, a Inês e a Carmo. A Maria tem 6 anos, a Carmo tem 11 meses, a Inês é a do meio e deve ter 4 ou 5, não sei bem, mas pouco importa porque é a minha favorita (desculpa Rita... encataram-me os dialogos dela - as manas ficaram a um cabelo de distância ;) ).

Dizer que me inspirou é muito pouco. A Rita é uma super-mulher, como acredito que sejam uma grande parte das mães, mas a Rita tem um blog... e isso, por pouco que seja, permite conhecer um bocadinho de uma realidade que não é a minha. Não queria parecer lamechas, mas várias vezes me emocionei com a carga que os textos transportam, e mais que isso, a felicidade que deixam transparecer. E tudo porque é Mãe! Uma Mãe consciente e que está um bocadinho mais a frente... ela quer guardar um bocadinho de cada dia na infancia das filhas não só para si, como para as filhas, e para o resto do mundo, porque não? É um tesouro!

Não quero estragar a leitura de ninguem mas não resisto a deixar aqui um pequeno diálogo das pérolas que lá encontrei:

"Ternuras

A mãe tinha os olhos pintados e sem querer, esfregou-os:
-Ó Maria, tenho os olhos esborratados?
-Não. Tens os olhos lindos."


...enfim... que dizer... O meu bebé tem um mês e uma semana. Fomos hoje à pediatra fazer uma consulta de rotina. Está a ficar um matulão, saltou uma série de percentis durante este mês, e eu fiquei todo orgulhoso. Está tudo regular (não quero nenhum gordo) menos o perimetro cefálico que rebenta a escala! Vai ser esperto como o Pai! cof cof...
É um puto lindo de morrer... quando me aponta aqueles olhões e fica muito desconfiado a estudar-me não sei o que fazer. Invejo um bocadinho a Rita por já ter as filhas crescidinhas, criando a maior bagunça, falando, ouvindo, aprendendo, ensinando. Por outro lado tambem quero gozar estes momentos da vida do meu bebé, se bem que há que admitir que é um bocadinho monótono... há fome, há sono, há frio, há calor, há cólicas, há cocó... pouco mais. Tirando os olhares, os soninhos ao colo e os sorrisos raros não há assim muito que se possa recordar com saudades... daí a minha ansiedade também...

Costumo monta-lo no cavalinho (que é o meu braço) e andar pela casa a falar com ele (faço de pai e de filho - aproveito para provocar a minha mulher... resulta!) e a mostrar-lhe as divisões ou a falar-lhe da família. Tirando o peito da Mãe e os suplementos, é o que melhor resulta para o acalmar. Ele gosta de tudo o que o tire do berço... não gosta de dormir, dá-me ideia que o assusta o sono às vezes. Adormece sempre durante as mamadas, provavelmente porque nada lhe dá mais segurança que o calor, o cheiro e o som da Mãe. Tenho inveja... Quero que ele se sinta igualmente necessitado de mim mas percebo que ainda não é altura - e eu sou péssimo nas esperas... procuro logo algo com que me entreter, mas desta vez não posso... não consigo pô-lo de lado para esquecer a espera! Custa um bocadinho.

Mas não é desculpa para não vir postar mais vezes, até porque já tenho net de luxo via clix e-motion. Desde que a minha patroa me dê uns minutinhos por dia eu prometo vir contar o que se passa na casa dos Simões.

Quanto à Mãe Galinha... Obrigado!

2004-08-14

Como é que ele faz?

Não sei... mas embala-me a ideia de o meu filho olhar para mim e ver muito mais do que eu vejo quando me olho ao espelho.
É um devaneio narcísico, mas invejo-o por isso.
Que pena ele não poder falar.
Que pena eu não poder ouvir.

Que sono...

"Quando morrer tenho muito tempo para dormir"... Nunca dormi muito. Uma mistura de não precisar com não conseguir, e ainda com não querer. Achava um desperdicio. Por mais que fizesse ou soubesse bem.
Invejava Marcelos e quejandos que conseguiam dormir pouco mais de 2/3 horas... bem melhores que as minhas 5/6...
Tudo muda quando o sono nos é privado... e ter um bebé é uma ocasião de ouro para reaprender a dormir. Só que eu não me consigo adaptar. Qualquer som de um filho, por mais subtil que seja, nos faz acordar com a máxima atenção. Isso se calhar não faz mossa a quem consegue adormecer facilmente, mas para mim, que é uma luta... implica não conseguir voltar a descansar, e a sentir uma profunda frustração por perder qualquer controle do meu tempo.
Sempre achei sublime poder estudar de noite, ver televisão ou ler até para lá das 4 sem ter de comprometer o meu horário do dia seguinte. Era linear que quando viesse o sono podia dormir seguido até ter de me levantar...
Bom... não tenho muito por onde me queixar. Devo ter aguentado 15 dias a acordar a meio da noite... agora já não durmo ao pé do bebé - vénia à minha competente mulher que me permite esse luxo.
Mas preocupa-me que ela avarie um parafuso... confesso a minha admiração... não sei se aguentava...