2004-10-25

O Orgulho...

...esse pecado mortal!

O bebé está a dormir. Como sempre, a cada batida de coração vou espreitá-lo ao quarto. Está deitado. De cabeça tombada. Braços espalhados. Pernas arqueadas. Expressão séria.
Toco-lhe ao de leve no diafragma e sinto a sua respiração vigorosa.

Afasto-me um bocadinho para um novo olhar e ponderação. Saio do quarto a sorrir. De todas as vezes...

2004-10-23

Billy the kid

Recentemente tenho recebido alguns comentários incomodados. Infelizmente nada de muito estimulante. Acho que foram visitantes de gatilho rápido que no seu melhor juízo decidiram parir opinião. Não vejo mal nisso, mas incomoda-me a ligeireza com que se fala de coisas das quais não se faz a minima ideia, ou da nobre tarefa que é encontrar erros ortográficos nos meus posts.

Depois, torna-se doloroso discutir com quem não percebeu a mensagem.

O mais importante está dito.
Ficou a faltar um detalhe. Este blog é escrito nas minhas horas vagas. Nasceu do facto de que ia ser pai e de querer guardar alguns pensamentos para o futuro. A leitura diária de outros blogs levou-me a escrever um bocadinho sobre política por pura incontinência. O endereço do blog só foi participado a alguns amigos e familiares e é para eles que escrevo. Quem não me conhece não é aqui que me vai conhecer.

Liberalismo

Dá-me ideia que continua a haver muita gente desorientada em percepção, memória, tempo e espaço.
Segue uma ajuda (pobre, mas esforçada), que não substitui a consulta e visita frequente à minha lista de links - muito menos a leitura de pelo menos "The road to serfdom" (Hayek), "Law, Legislation and Liberty" (os 3 volumes)(Hayek) "Open society and its Enemies" (Popper), "Rationalism in Politics and other Essays - On being conservative" (Oakeshott) e as crónicas do Professor João Carlos Espada no Expresso. Eu sei que parece muito para quem tem tantas certezas, mas prometo que é leitura ligeirinha. As Galveias guardam cópias destes livros e uma assinatura on-line do Expresso está a €60 por ano... não impede ninguem de se cultivar!
Mas adiante e abreviando:

Liberalismo - Muito pouco estado! Apenas o suficiente para manter a lei e a defesa nacional. Nessa lei deverá estar salvaguardado o direito à vida e à propriedade. Prevê-se a existência de uma safety net para aqueles que se vêem numa situação de unmerited failure.

Conservadorismo - Manutenção do que está bem. Por princípio não se deve mudar a sociedade por mudar. Aceita-se de certa forma que o preconceito é saber acumulado e senso comum. As coisas mudam naturalmente, livremente, por interacções infinitas entre as pessoas. Não se aceita o planeamento social - é em quase tudo compativel com o liberalismo.

O resto... social-democracia, socialismo, comunismo e variantes: Intervenção crescente do estado. Desenho da sociedade. Distribuição da riqueza produzida. Liberdade no sentido positivo (só sou livre de ir para a austrália se tiver dinheiro para isso, as opposed to, sou livre de ir para a austrália desde que não seja proibido - liberdade no sentido negativo). Culto prestado ao mágico efeito multiplicador. Igualdade (Argh!). Enfim... disparates.

Os americanos foram alterando um bocadinho estes significados e ser liberal passou a ser o oposto de ser conservador. E para o liberalismo encontraram outra palavra Libertarianism.

O meu amigo inglês

Conheci o meu amigo há cerca de 7 anos. Mecânico de profissão. Tinha um Diablo na garagem. Um tipo 5 estrelas... um bocadinho destravado com as namoradas até ter um filho. Sempre lhe pedi conselhos. Nunca os quis dar até ao dia em que soltou o famoso Factor10. "Money wise... nunca aceites conselhos de quem não ganhe pelo menos 10 vezes mais que tu".
Fez sentido. Presto especial atenção quando leio ou oiço alguem que nitidamente sabe o que está a dizer... porque já o provou!
Infelizmente é quem menos sabe que gosta de soltar opinião.

2004-10-21

Fado

O Superbebé está um estouro! Tenho passado uma parte considerável do dia com ele (a Mãe também, foi esse o plano). Começo portanto a conhece-lo muito melhor. É agora muito mais fácil quebrar um choro, e melhor que isso, quebrar um choro com um sorriso - que é o supremo sucesso (para já).
Mas a parte boa é mesmo quando ele está bem disposto e temos a oportunidade de brincar sem constragimentos - não há sono, não há fome, não há porcaria na fralda. Nessa altura quase tudo vale... ele quer interagir, e já sabe que eu sou o palhacinho... já espera claramente a rambóia quando começo a brincar. Se a brincadeira tarda, franze o sobrolho - " Onde está a punch-line? Quando é que é para eu me rir?" E quando finalmente chega o momento ri sem qualquer travão. Ri e ri, e gargalha, e eu derreto-me. Raios me partam, como é bonito o meu filho a rir. E como é carismática a sua gargalhada... ora clara, ora arrastada, afinada com os olhinhos todos risonhos e a boca aberta expondo aquele vazio de dentinhos. Depois os espamos de braços e de pernas, e a antecipação da próxima gargalhada... às vezes posso repetir a mesma brincadeira quê?... 20 vezes; que ele não se farta... e eu é que não me farto de certeza de o ver rir - não concebo outra realidade.
Com a Mãe tambem se ri bastante, mas agora já nao tenho ciúmes nenhuns.

Isto talvez explique como me tenho sentido bem ultimamente. Apesar de se terem multiplicado as responsabilidades e dividido o tempo disponível. Apesar de reduzir a leitura e surfada bloggeira a quase nada. Apesar de não ter tempo para fazer desporto ou ir ao cinema com a namorada... A vida corre-me particularmente bem. Tudo parece estranhamente mais fácil. Os resultados parecem materializar-se e quando reparo melhor... estive com a cabeça quase exclusivamente noutro sítio, e quando chego ao pé do bebé... tudo o resto se esquece... seja o que for!
É estranho. Não conhecia estas externalidades positivas de ter um filho. Mas agradam-me muito!

Tanta felicidade lembrou-me de repente o fado... de que se queixam aquelas pessoas? que tragédia lhes aconteceu? O que lhes faz tanta falta?
E de repente bateu-me... tambem eu chorava se me faltasse um fragmento da minha vida como a conheço hoje. Nunca antes me tinha assustado particularmente perder uma rotina, uma companhia, um modo de estar. Parecia-me uma lamechisse. Uma rendição.
Nada mais falso...

2004-10-14

Empreendedorismo

Ultimamente tenho saído de casa bastante cedo. Faço uma passagem rápida por casa da minha mãe para cravar uma ama qualificada (a minha irmã) antes de ir aos meus afazeres. É um caminho muito curto de carro, e tenho a impressão que o faço quase sempre a dormir. Hoje porém não foi assim. Logo uns metros a seguir à saída da minha garagem reparo num "arrumador". Temos disto aos montes cá em Lisboa. Mas não são todos como este... Não! Este arrumador estava às 7 e pouco da manhã fresquinho e pronto para um longo e duro dia de trabalho. O seu trabalho consiste em apontar lugares numa avenida gigante onde qualquer vaga se vê a 100 metros de distância. E os lugares são sempre muitos, e bem falta fazem dado que estou a falar da zona onde se situam as torres de Lisboa (Galpenergia, BPI, AMS, British Hospital, Ex-Vodafone).
Bom, mas lá estava ele bem cedinho como dizia. Criando as suas oportunidades. Guardando o seu negócio. Fazendo as suas contas. Um verdadeiro empreendedor! - Identificou um mercado, segmentou-o, conquistou um espaço, tomou-o, e vai de disponibilizar um valioso serviço.
Gabo-lhe a originalidade e o esforço.
Lembrei sem saudade uns cursos de formação que dei sobre o assunto. Tratava-se de reintegrar no mercado de trabalho pessoas que tinham perdido o emprego num processo negociado. Os nossos serviços eram pagos pelo antigo empregador. Curioso haver sempre um esperto a falar no fenómeno dos arrumadores ou noutra forma semelhante de parasitar a sociedade... sempre o tipo cujo despedimento era mais evidente e cuja indemnização se tornava mais escandalosa face aos seus colegas. O esperto tomava como exemplo de empreendedorismo qualquer actividade mafiosa que lhe permitisse qualquer ganho, desde que não houvesse trabalho ou necessidade de investimento (que por sua vez é trabalho acumulado) – arrumar carros, lançar um esquema em pirâmide, vender banha da cobra no interior do país.
Se lhes tentasse mostrar um caminho diferente monopolizavam a sessão com argumentações parvas de que “aquilo” é que era bom. É difícil ensinar alguém que já sabe tudo. Frustra. A solução é obviamente nem tentar. E de repente bateu-me que provavelmente é o que todos sentimos quando nos deparamos com um arrumador – frustrados, e sem vontade de reagir…