2003-12-31

Fama

Um pequeno post para agradecer as visitas de ontem provocadas pela publicidade da minha Mãe. Deu a conhecer o endereço do blog e logo me vejo reconhecido e me sinto honrado por ganhar atenções diversas. Ocupar algum tempo de inteligencias plurais... Agradeço também os votos de felicidade e de uma boa paternidade.

Restos de uma noite mal dormida

A bem do rigor, não se pode falar de liberalismo ou do seu contrário sem falar de Sociedade, de Direito e de Estado. Não faz sentido falar de doutrina aplicada a um individuo só. Aliás, um individuo só é uma coisa semi-desconfortável. Está só porque assim se sente bem? Aristóteles dizia que era um Deus ou um bruto... Não me sinto com propriedade para falar de Deuses ou de brutos. Falemos antes de individuos incluidos numa sociedade. Onde fará sentido discutirem de que forma devem interagir, com que espécie de liberdade (ou falta dela), onde inevitavelmente em de nascer alguma ordem.
Um liberal não tem medo ou desrespeito pela ordem, bem pelo contrário! A ordem é uma coisa boa. A lei protege o Homem bom, que não invade a liberdade do vizinho. Favorece um relacionamento pacífico. Até aqui não consigo distinguir se estou a falar de Direito Natural ou Positivo. É com certeza natural, porque nasce de uma moral humana, nasce da aprendizagem e da evolução. Torna-se um costume que certos direitos estejam protegidos - mesmo que nunca sejam escritos. É positivo porque no desenho humano esse Direito é refinado, tentando prever mais situações, estatuindo solucões...
É bom que se protejam as liberdades de cada um! Permite-nos viver pacificamente e usufruir de uma vida em sociedade. Permite a interacção social, intelectual e sentimental. Permite a troca de mais valias. Permite o destilar o reconhecimento da nossa própria existência!
Formiga ou cigarra...
Com mais ou menos sentimento grupal. Sentindo mais ou menos dependência dos outros. Seguindo ou não um propósito superior - Devemos encontrar o nosso lugar... e a atitude que esse lugar nos exige. Parece-me justo que cada um escolha o seu lugar e o possa mudar as vezes que quizer. Parece-me justo que uma consciencia deve ser livre de perseguir os seus objectivos individuais. Tambem me parece que esses objectivos podem beneficiar o grupo em circunstâncias muito específicas - Num espaço e tempo onde o interesse pessoal se intercepta com o interesse publico! Esse espaço existe e devolve um benefício tangível.
Era isto que não me estava a deixar dormir... a minha formiga liberal parecia demasiado isolada. Afinal não estava e precisava ver isto escrito.

2003-12-30

Actualização

Eu não devia andar a ler blogs quanto mais escrever. Mas sou um fraco...
Um post curtinho para anunciar uma pequena actualização dos links permanentes ao lado. Havia uma mão cheia de falhas imperdoáveis.
Não percam tempo comigo sem se banharem nos arquivos destes profetas...

Porquê liberal?

Era uma vez uma cigarra e uma formiga... a estória é conhecida. Banal. Uma linda fábula cheia mensagem. Devia estar com muita atenção quando a contaram na infantil porque não me lembro de alguma vez querer ser uma cigarra. Provavelmente a educação que me deram e os exemplos que absorvi tambem foram muito claros. A formiga é que fez bem. Aprende a lição para não seres uma cigarra...
Bom... o tempo passa e a estória deixa de ter resposta para tudo. Podemos manter o seu espírito e ir um bocadinho mais longe. Aceitar igualmente a cigarra e a formiga sem impôr um comportamento ou uma moral. Era fácil nem sequer falar disto se toda a gente aceitasse todos os comportamentos. Infelizmente não é assim. Na verdade até há quem consiga ir um bocadinho mais longe e tenta acusar a formiga de invejosa, oportunista e perigosa capitalista. Também é insensível ao sofrimento alheio. Escravizadora. Detém toda a riqueza e meios de produção. Riqueza essa que pertençe a todos. Ou não pertençe a ninguem... a cegueira é a mesma!
Só mesmo por isso é que uma formiga se pode chatear ao ponto de dizer: "Cantaste?... agora dança!". É um desabafo que poderá ser cruel para uns, mas mais que apropriado para outros. No fundo um liberal só não quer ser castigado pela ineficiencia alheia. Por isso se protege - com família, com trabalho, com poupança e com risco porque não? Essa protecção ou resulta ou não resulta... aparentemente resulta. Porque raio não se ha-de seguir um exemplo que resulta e se anda a inventar para proteger os exemplos que não resultaram? Mas que raio de humanismo é esse que não permite a um pobre enriquecer se for essa a sua vontade?
Os ciclos sociais são mais que evidentes. Existe realmente uma grande diversidade de classes. As pessoas nessas classes não são sempre as mesmas. As melhores ascenderão sempre, as piores descenderão sempre. Existem pessoas mais motivadas, mais obstinadas, mais ambiciosas... É um facto! São as formigas. Existem pessoas mais passivas, menos propensas ao risco, menos confiantes, mais esbanjadoras. Não são formigas. Terão o que conseguirem ter. É injusto que tenham mais que isso, ainda para mais se for à custa de um hospedeiro.
Sou liberal porque aguardo o dia em que me deixem em paz. Não quer dizer que não me consiga distinguir com estas regras, porque consigo, apenas quero mais. Gostava de ver as coisas funcionarem sem se tratarem as pessoas como coitadinhas. Gostava que cada um planeasse as suas necessidades com antecedência. Gostava de viver num mundo sem muletas. Principalmente se a muleta me sai dos ossos... Cante e dance quem quizer. Eu ando à procura de outra música.

2003-12-29

Mudanças

Alma de Pai... Este blog era sobre a minha paternidade! Qualquer vesgo constatará que a identidade se transfigurou. Após curto luto estou de volta para me justificar.
Eu vou ser pai. Estou radiante com o projecto. É o princípio da minha vida séria. O lançar das minhas sementes boas pelo mundo. Esqueço tudo o que escrevi, tudo o que conquestei, tudo o que construi. Agora é que é a sério! É o que tenho de constante. É o pilar. É a trave mestra. Junto com a minha relação serão as minhas prioridades!
Isso provoca um turbilhão de emoções. Algumas delas têm lugar aqui. A maioria não pelo seu grau de intimidade. É inviável tentar escolher... o que se pode escrever é escrito de uma forma natural. Há um mundo de coisas que querem ser escritas de uma forma natural... não necessariamente intimas. É isso que tenho vindo a fazer e que continuarei com renovado animo daqui para a frente.
Para começar, e logo que surja uma folga, tentarei sistematizar um pequeno curso de Ciência Política. Nada de original. Nem os comentários apensos! Cada vez mais me convenço que está tudo dito...
Não será um curso imparcial. Recorrendo a uma dúzia de autores será defendida uma postura liberal. Falarei de autores que estão tão longe destas ideias quanto se pode imaginar. Sem censuras.
Não tenho formção em Ciência Política. Serão textos de mim para mim. Deixarei a Bibliografia por descargo de consciência.
Despois do "curso" nada será como antes. Opinião livre sobre os assuntos da actualidade sem medo de melindrar o amigo mais frágil. Serão essas as mudanças.

2003-12-24

Natal

Que coisa bonita é o mercado. É a minha religião favorita - louvar a divindade do mercado! Reconhecer as suas dádivas. Apreciar a sua perfeição. Meditar sobre as suas (escassas) falhas.
O Natal é um bom momento para sentir como se funciona num mercado relativamente livre. É bonito ver as carrinhas estacionadas em segunda fila abastecendo cafés, lojas e restaurantes. É bonito ver os comerciantes preocupados com os seus stocks e tentando adaptar a sua oferta à procura. Por outro lado ver as pessoas tentando ajustar o que procuram com um custo que lhes seja aceitável. Tomar nota da publicidade tentando ganhar quota para uns produtos, lançar outros. Tentando criar uma necessidade ou estudando uma oportunidade. Um ajuste contínuo de oferta e procura conseguindo infinitas intercepções! É bonito. Sempre que se dá uma dessas intercepções conseguem-se 2 agentes satisfeitos. Esqueçamos os compradores contrariados, mas mesmo esses estão a tomar decisões racionais, equilibrando benefício e custo. Comprar aquela garrafa de Sctoch para o chefe, por mais agoniante que possa parecer, compensa sempre o custo do arrependimento ou du pudor de não oferecer. Se não compensasse a pessoa não comprava.
A única coisa que não compramos racionalmente são os impressos para o fisco. Somos obrigados. E somos obrigados tambem a comprar a paz de espírito ao pagar os respectivos impostos. Até aqui a economia se impõe. Existe um custo associado à fuga fiscal. Para alguns esse custo é aceitável e fica aquem do benefício. Para outros não. Existe uma certa moral associada mas fica para um post futuro.
Voltando ao mercado - toda esta entropia que estive a descrever gera actividade económica, gera empregos, há transferencias de capital e trabalho. As pessoas trocam livremente trabalho por bem estar. Bom... quase livremente. Existem impostos e taxas que adoeçem o sistema. Existe uma perda social grave. Uma perda que nem estado nem agentes aproveitam. Evapora-se pelo simples facto de não se deixar o mercado funcionar. São as escolhas de uma sociedade com um estado demasiado presente. O estado terá de cobrar impostos para pagar os 700 000 salários que contratou. Aquelas pessoas têm com certeza direito a um salário, mas estarão a ser agentes plenos? Trocam "trabalho" por capital, e capital por bem estar, mas o trabalho que oferecem acrescenta valor ao mercado? Eu acredito que não.
Acredito que um estado se deve cingir a funções básicas de administração interna e justiça. O resto, o mercado faz melhor e mais barato. A motivação geral é superior. Existe criatividade. Existe variedade.
Se o Natal de 2003 está a ser bonito, imaginem um assim...

2003-12-23

Salário Mínimo

Acabei de escutar a crítica de Miguel Sousa Tavares na TVI. Foi um acaso. O MST não é o Marcelo. O Marcelo quando fala usa um truque que se chama inteligência, e o MST ainda não domina essa habilidade. Pelo menos em frente às camaras. Enquanto comentava a "miséria" de aumento que o governo estipulou para o salário mínimo perguntei-me diversas vezes se não faria sentido trocar todos os meus Professores de Economia pelo MST. E antes que isso acontecesse, ir apontando com muito jeitinho estes momentos de pura confeitaria verbal. Entretanto travei-me. Naaa... isto são mesmo disparates. O ideal seria alguém explicar a MST o efeito de um aumento do salário mínimo no mercado. Salário mínimo esse que já é uma violência num mercado livre, but i digress...
Num país (acrescentar adjectivos a gosto) como Portugal, onde o proteccionismo ofende, e onde já de si se torna perigoso contratar um colaborador, a imposição de um salário mínimo maior, força a oferta de emprego a retrair-se. O mercado de trabalho não se pode adaptar porque a lei assim não o permite. O Estado em si, mais valia estar quieto uma vez que não paga salários mínimos. O interesse dos sindicatos na subida do salário mínimo explica-se pela microeconomia no interesse de proteger os seus associados (a maioria dos quais não ganha o salário mínimo e são mão de obra mais qualificada e diferenciada). Portanto... os prejudicados são precisamente os candidatos a receber o salário mínimo, cujo emprego se torna mais raro, e sobre o qual não podem negociar uma parte fundamental que é o vencimento. Isso é que é escandaloso. Não o aumento de 9 euros.
Felizmente o alinhamento rapidamente nos trouxe outra reportagem e MST mudou a crítica para o bacalhau de Natal. Esse sim, um assunto que me pareceu dominar.

2003-12-22

Discotecas

Não gosto de discotecas. É todo um conjunto de incómodos e escassez de benefícios.
Este fim de semana fui obrigado pela ultima vez a entrar numa discoteca em Sevilha. Ainda me tentei desmarcar com um ar enjoado e uma dor de garganta. Quase salivei com a perspectiva de poder ir acabar um livro para o Hotel. Não tive tal sorte. Uma vez no escuro, demoro meia hora a fartar-me das mulheres bonitas. Inicio um processo de crítica. Apercebo-me do quanto odeio aquela bagunça. Mentalmente acendo a luz e vejo uma turba dançando e fumando ao sabor de um barulho que não compreendo. Reparo como as pessoas se estiveram a arranjar umas para as outras sem no entanto se olharem directamente senão em casos pontuais. Um exercício de estilo e indiferença que envergonha qualquer pessoa inteligente. Pelo meio bebem-se uns copos. Homens e Mulheres. O espaço está densamente povoado e é desconfortável para todos. Ir à casa de banho é um exercício de equilibrio e paciencia. Para piorar... a luz não está acesa, está apagada! E tudo isto se passa de noite. (Porque de noite?!).
Imagino que uma discoteca tenha o seu apelo para a juventude ou para pessoas sem par. A mim numa me disseram nada em nenhuma destas fases. O ambiente tornou-se de tal forma pestilento que a dada altura tive de sair.
Não é sítio para mim. Principalmente porque olhando à minha volta não encontro ninguem que esteja tão incomodado como eu.

2003-12-19

Obrigado

Dou lições particulares há mais de 9 anos. Já tive umas centenas de alunos, uns mais especiais que outros, uns mais aplicados que outros, muitos vieram a tornar-se bons amigos. Frequentemente desenvolvi com os pais optimas relações pessoais. Tanto que se tornou hábito por alturas do Natal receber umas prendas. Tenho recebido prendas fabulosas, do postal à camisolinha feita à mão. No entanto tenho um explicando que bate recorrentemente os records. O ano passado uma requintadissima garrafa de Champagne, numa caixa de fazer babar os convidados. Mais recentemente uma completíssima caixa de recheios de valor gastronómico inestimável. E hoje recebo uma caixa de garrafas de vinho que mal consegui carregar. Dão, Quinta da Espinhosa... uma grande pomada ouvi dizer! O postal vinha a condizer e fiquei comovido. É muito agradável verem o nosso trabalho reconhecido. Alem disso produz um eco estridente na vontade que se tem de melhorar.
Hoje tenho de agradecer ao Miguel e à Mãe pelo excelente presente de Natal.

Despedida de Solteiro

Esta semana estive a organizar com uns amigos a despedida de solteiro de um outro amigo. É um grupo pequeno. Sempre que um de nos se casa haverá uma despedida especial só com os 5, independentemente de outras que possam haver. É uma coisa bastante aguardada portanto. A organização é o melhor... a conspiração, o explorar da criatividade, o gracejar constante... Estamos todos danados para um pouco de tolice!
Não posso adiantar o programa para já - estragava a surpresa. Mas aproveito para pedir desculpa pela pequena ausência. Logo que volte, recupero os trabalhos. Não vou beber. Não gosto e já não estou em idade de achar que isso me ajuda a divertir. Um dia faço uma crítica mais profunda à questão do alcool.

Carlos Cruz

Com toda a nova comoção relativa à hipotéctica libertação de Jorge Ritto somos de novo bombardeados com todas as himagens de todos os arguidos do processo Casa Pia. Surge a famosa saída de Carlos Cruz de uma audiência onde tapa a boca e se abanica todo para as camaras. Ocorre-me dizer umas palavras sobre o assunto.
Como prólogo cabe-me esclarecer que sentia uma certa simpatia por CC. Uma vez, quando era muito novinho, numas férias no meio de uma parvónia qualquer em terras portuguesas, o CC despistou o seu carro à minha frente. Ele não era muito famos na altura mas notava-se na sua atitude uma certa panache... um olhar atento e inteligente. Aprecio a inteligência das pessoas - aprende-se sempre qualquer coisa.
Mais tarde acompanhei alguns programas apresentados por CC. É evidente que se tornou muito bom no que fazia - era oportuno, criou um estilo, transpirava carisma. Depois levou a candidatura de Portugal ao Euro até à vitória e tornou-se um herói nacional. Portanto, competente, próspero, casado com uma mulher bonita e vicosa, relativamente discreto... um exemplo!
Entretanto há pouco mais de um ano surgem os rumores... Não teria ligado se ele não tivesse ido a correr explicar-se a todas as televisões. Se não tivesse chorado em directo. Se não tivessem vindo 30 amigos em defesa. O CC é um homem inteligente e sensível à opinião alheia mas falhou redondamente na sua defesa inicial. Teve uma reacção típica de uma pessoa inteligente atrapalhada - "vou usar o meu charme e conversa polida para conquistar opiniões!" E normalmente resulta... com a turba! Ele naquele dia pareceu-me culpado. E tem vindo a parecer cada vez mais com o pico na tal saida particular que tem sido repetida. Agora eu pergunto-me... o que terá passado naquela cabeça para fazer aquele gesto e olhar tão expressivos com milhões de pessoas a ver? Ainda por cima foi treinado! Ele sabia que lá ia ter as camaras, quis aproveitar o tempo de antena, não podia falar e vai de fazer mímica. Várias vezes!
Fiquei desiludido. Consigo perceber que se precipite pelo facto de estar tantas horas preso a pensar a 1000 à hora. A lei das probabilidade promete que se pensem mais disparates quando se pensa muito e não se podem testar os pensamentos com a envolvente. É o efeito de in-breathing. Alem disso, dificilmente aparecem ideias frescas. Cozinha-se cozinha-se sem novos ingredientes. Mais vale estar quieto.

2003-12-18

O Post que eu gostaria de ter escrito...

POST REACCIONÁRIO OU POLITICAMENTE INCORRECTO (COMO É QUE QUEREM?)
Há dois ou três dias, durante um acidental zapping, cruzei-me com o programa "Quem quer ser milionário?" (RTP1), agora apresentado por uma criatura capaz de irritar mortos. Estava um rapaz sentado na cadeira do réu, estudante universitário em Coimbra. A pergunta era: Quem realizou o filme La Dolce Vita. Resposta do rapazito: Roberto Benigni. Ah! mas parece que o estou a ver: "Não pagamos!"

Obrigado MacGuffin!

Por acaso tambem apanhei esse acidente. O mais grave é que o Jorge Gabriel disse que era um filme dos anos 60. As opções eram o Benigni, o Moreti, o Fellini e um estranho. O rapaz queria por tudo responder o Benigni. Raios me partam... haja dó!

Trabalhadores

Mas afinal, o que é isso dos "Trabalhadores"? Tanto ouvimos falar via CGTP, UDP, BE, PCP nos oprimidos e explorados trabalhadores que já era altura de uma definição. Eu tenho ideia que eles quando falam em trabalhadores estãoa imaginar um metalúrgico de fato-macaco azul, operando um sofisticado martelo equilibrando um cigarrinho nas beiças.
Meus Senhores, isso não é o trabalhador. Isso é um trabalhador. Bem sei que na vossa definição também cabem as costureiras, os agricultores e os pedreiros que não sejam donos de nada mas mais uma vez... essa massa não define "trabalhadores". Nunca me pareceu que incluissem na vossa definição um Engenheiro, um Economista ou um Consultor. Arquitectos, Médicos e Professores também não. Advogados, Atletas e Artistas idem. Deus nos livre de pensar em Empresários, esse então são o diabo!
Até certo ponto agradeço a descriminação. Realmente não gostava de me misturar em ideiais com os «vossos» "trabalhadores". No entanto todos trabalham. Nem todos se queixam é verdade. Não se anda por aí a berrar aos 4 ventos que se ganha pouco, que se trabalha muito, que não há segurança, ou que ninguem se preocupa. É uma questão de atitude... Ou se faz falta, ou não se faz falta. Um trabalhador produtivo fará falta em qualquer lado e a todo o momento. Esse trabalhador será reconhecido e prejuízo dos não produtivos, e será bem pago. Esse trabalhador não se vai queixar ao sindicato... aliás... ele não quer nada com sindicatos pelo vómito espontâneo que lhe provoca a maralha que tem peninha de si própria. O trabalhador prdutivo tem muitas vezes mais que um emprego mesmo que haja crise. É próspero, e não quer um Estado interventor. Sabe que se um empresário for obrigado a manter o seu emprego e tiver um custo alto na sua saída, o seu salário será menor, haverá menos emprego e menos regalias. Deus está no mercado, nunca no estado. O homem nunca conseguirá desenhar um sistema mais perfeito que a natureza. E a natureza está nas pessoas não está nas leis.
Por isso é que eu comemoro o dia do trabalhador a trabalhar.

Ferrari

Vamos a um bocadinho de publicidade. Aliás... este post é (também) sobre publicidade.
Ontem, quando fui comprar as ditas calças na Pré-Natal do Colombo (a Pré-Natal vai merecer um post próprio) esbarrei-me com um lindo Ferrari! Tenho uma certa simpatia por mecânica, carros rápidos, velocidade e altares ao capitalismo. O Ferrari berrava por mim. Abrandei um bocadinho o passo para o mirar. Bem bonito. Agradeço a liberdade de poder gozar com a liberdade e empreendedorismo dos outros. Também com o seu trabalho, criatividade e vontade de satizfazer as necessidades/desejos dos outros. Mas disperso-me.
O Ferrari 360 Modena F1 estava ali como estímulo a que os transeuntes fizessem uma assinatura na Netcabo. Será sorteado entre os actuais assinantes e os que entretanto contratarem o serviço. O prémio tem o valor de € 263.848,13. Cerca de 53 000 contos.
Imagino que eles queiram reforçar a sua posição no mercado aproveitando o Natal, com mais 10/15 000 assinantes ( cheguei a este número abrindo ao calhas uma página do dicionário, multipliquei por 3, tirei a respectiva raiz cúbica, e multipliquei o resultado por 1000. Nada de novo, a TvCabo fez o mesmo).
Ora, um assinante Netcabo pagará entre 25 e 35 euros por mês - como a grande maioria dos já assinantes paga o valor máximo vamos usar uma média pesada de cerca de 30 euros por mês para o universo dos novos assinantes. E portanto vamos projectar a receita para o primeiro ano de 12500 * 30 * 12= € 4.500.000.
Os custos de captação destes novos clientes será considerável, ao nível dos subsídios de equipamento, ao nível da publicidade e o preço do carro e respectivos impostos de concurso. Os modems na realidade são quase pagos pelo cliente. O que a netcabo paga é facilmente aceite como custo afundado e como custo de fidelização. Saiem já destas minhas contas. A publicidade andará perto dos € 250 000... vou somar outros €250 000 para as operações e imponderáveis (meus claro... eles terão isso bem orçamentado) e estimo um custo de aproximadamente € 750 000. Um lucro muito agradável portanto.
É claro que existe todo um conjunto de de amortizações de implementação a fazer, uma estrutura grande para alimentar, os custos variáveis com relevancia, mas nada disso tira o mérito à campanha.
Só me perturba o efeito de auto-canibalização a que o grupo PT se sujeita com a perda de novos contratos de ADSL do Sapo e respectiva rentabilização das linhas telefonicas que comprou muito recentemente. Ainda mais porque as comunicações fixas estão em declínio com a ascenção do telemóvel.
São opões... muito marketing e estratégia inspirada I'm sure.
Lamento não darem igual relevância às operações, nomeadamente o apoio ao cliente. São lentos, têm métodos desadequados e não valorizam a eficiencia.
Mas isso... quem vai atrás do Ferrari não sabe...

Menino bonito

Ontem caí nas graças da minha mulher por lhe ter oferecido umas lindas calças de grávida. Fomos direitos à loja. Ela experimentou umas poucas. Ficavam-lhe todas bem. Escolheu umas. Eu paguei. Ficou contente. Saimos da loja e trocamos afectos como se tivessemos comecado a namorar há 15 minutos. Quem diz que o dinheiro não trás felicidade? ;)
Por outro lado ocorreu-me... num regime colectivista (e imaginei um perfeito e com abundância), o acto de ir ao armazém buscar umas calças de grávida... sem poder escolher cor ou feitio... sem representar uma escolha de orçamento... que felicidade traria?

2003-12-17

Thin red line

As provocações têm sido muitas. Dizem as vozes que eu escrevo pouco, superficialmente e sem polémica. O contrário do que sempre fiz. Por outro lado não divulgo o blog e portanto perco vergonhosamente a guerra das audiências.
As audiências preocupam-me realmente... não posso ter demasiada gente a ler o meu blog. Não agora pelo menos. As desculpas são várias, mas a mais importante é que me falta disponibilidade intelectual.
Nos ultimos meses tenho lido demasiados autores. Isso provoca (e ainda bem) uma entropia incontrolável, e macera irremediavelmente a minha auto-confiança. Os blogs do dia a dia também são muito bons. Quando acabo a minha pequena volta diária fico sem nada para dizer. Nada que mereça ser repetido de uma forma inferior ao que os senhores (e senhora) dos links aqui ao lado já escreveram.
Podia perfeitamente masturbar as ideias por mais uma dezena de parágrafos mas olho atento me desmascaria...
No entanto há coisas pouco faladas e com interesse. E hoje o assunto vai ter a ver com sexo. Não vou falar de sexo mas da barreira invisível entre o razoável e o proibido. Ler perigoso em vez de proibido.
O sexo é uma coisa boa. Quem não concordar faça o favor de ignorar este post.
É bom desde que traga prazer aos envolvidos, desde que seja de comum acordo, desde que não incomode ninguem, desde que tenhamos idade para sabermos o que implica.
As restrições constituintes não são muitas portanto. Existem outras: de ordem física, de ordem moral e de ordem social. Vou deixar essas ordem por desdobrar. Hoje interessa-me mais falar sobre a linha que um casal desenha como limite à sua exploração sexual. Aquela fronteira que tacitamente se aceitou, vencidas as barreiras iniciais da falta de intimidade e conhecimento.
A minha opinião é que essas linhas são saudáveis, e são tanto mais úteis quanto mais foram faladas e/ou negociadas. Fazer disso tabu parece-me um mau caminho. Manter vergonhas ou desejos escondidos parece-me violento e só pode piorar com o tempo, com a vivência, com as discussões.
Falar poderá não ser tão fácil como parece. Primeiro porque muitas vezes reina o desconhecimento sobre o que o outro quer, gosta, sabe, já fez, não fez. Depois porque não ter qualquer pudor em falar de tudo distancia as pessoas - obriga-as a defender a sua auto-estima, mesmo que seja de uma forma pouco consciente. Tambem para falar de sexo é preciso algum afecto. Num casal, bem entendido! Encontros fugases e affaris são outro assunto.
Falando ou não a linha existe. E põe-se a questão: devia existir? será assim tão mau ir experimentanto pequenas evoluções em todas as direcções? Ou experimentar tudo de uma vez porque não? Tentar vencer as rotinas... não deixar nada por encarar... não reprimir desejos... não arriscar desejos fora da relação...
A mim parece-me bem que exista essa linha - pouco me interessa o seu perimetro. Cada um saberá o que acha razoável e uma boa relação afecto/prazer(físico). Agora sem linha, esse rácio tenderá inevitavelmente para zero.
A procura por algo diferente (tem de ser necessariamente diferente), novo, inesperado, louco para potenciar novos prazeres físicos ou luxurio-psicológicos, travará necessariamente a evolução do afecto, e a dado momento aparecerá a abstracção. Pouco importa quem está ali à nossa frente, o momento é de gozo, de superar a maluquice de ontem, de ultrapassar o filme, de tocar o irracional. Não há linha. Acharão porventura os mais rebeldes que isso é uma cena mais à frente... libertar de complexos, atingir o nirvana. Não sei quem está certo.
Acredito que o nirvana se atinge trabalhando o numerador do rácio de que falei. A linha não precisa ser explicita mas o problema tambem nunca se põe.
Tento guardar algum respeito pelos defensores da nova tendência de swing. Talvez não passe de um púdico ciumento, mas repugna-me a ideia da troca de parceiros. Parece-me pouco higiénico a todos os níveis por um lado, e a assumpção de uma frustração sexual por outro. É claro que se uma pessoa tem um parceiro que não a completa, faz todo o sentido que o troque por outros. Eles dizem que é só a nível sexual... que no resto a relação deles funciona. Mas porque não partilham os filhos também. Haverá melhores mães e pais por aí... quem sabe? E melhores cozinheiros. E pessoas com melhor humor... com quem nos identifiquemos mais intelectualmente... Eh pá... e que tal separarem-se e tentarem encontrar alguem que não os deixe frustrados? I'm not judging!... é uma duvida que me visita de vez em quando. Admito que seja uma limitação minha.
Por outro lado aceito que a fortuna não chega a todos. Nem todos podem ter um parceiro atraente, atlético, com uma pele cheirosa e suave, que beije de uma forma envolvente e afrodisíaca. Ou com cabeças estimulantes e apaixonantes que substituam ou se adicionem aos atributos físicos.
A televisão não ajuda. A redefinição moderna do que é bonito e do que não é deixa muita gente de fora.
Somos inundados com verdadeiros ensaios de beleza e estilo e dificilmente se consegue ser original. Às vezes o melhor é nem pensar muito nisso.
Vou aguardar reacções e voltarei a este assunto.

2003-12-16

Dor II

A dor ao nosso serviço! Não sei se é comum... eu uso com moderação. Desiludam-se os que estão à espera de um diário sado-masoc. Também não vou falar da dor ao serviço da preguiça: "Estou? Chefe!... Hoje não posso ir trabalhar, doi-me a garganta".
A dor serve para nos distrair e até purificar às vezes.
Ciclicamente todos temos problemas. Para uns parecerá mais frequente que para os outros. Para alguns parecerá que os problemas são a regra. E se calhar até são... para esses não tenho solução.
Eu não gosto muito de me queixar. Tenho os mesmos problemas que o next man, não quero ter mais nem menos. Tudo faz parte.
Quando me incomodam um bocadinho mais por se tornarem em conflitos morais ou porque envolvem outras pessoas e requerem uma solução original, sirvo-me da dor para descer à mente mais simples. Não me chicoteio bem entendido! Vou correr, vou nadar, esmurro um saco... Os primeiros minutos são estéreis em resultados, mas quando o corpo começa a acordar e a mente tem de intervir, sinto que uma consciencia me invade e me obriga a estar mais concentrado no exercício. Forço-me a fazer chegar a dor para me poder abstrair dela. Quando finalmente consigo, os problemas parecem mais fáceis de resolver. O corpo tem uma forma fantástica de se embriagar quimicamente e disso resulta a presença de espírito, o pragmatismo, a descontracção.
Muitas vezes nem há nada para resolver, mas o facto de se ter estado ocupado a vários níveis permite quebrar a onda de remorso ou o encalhar de pensamentos. Resulta muito bem.

PS- Não resulta com o IRS. Já tentei.

Dor

A dor não existe. O corpo produz uma determinada endorfina de protecção se acha que há perigo. Se não houver perigo a dor é facilmente ultrapassável. Este é o corolário da dor no desporto. Se doi porque estamos cansados ou porque fizemos um hematoma, procura-se mais concentração e segue-se com o treino ou com o torneio. Aprendi assim e é assim que continuo a fazer. Serve para muito mais que o desporto. A mente é poderosa para ultrapassar uma infinidade de obstáculos. Basta haver vontade e acreditar. Não vejo outra explicação para um atleta correr 20, 30 ou 40 km. Para nadar 3000 metros. Para combater um adversário mais forte. A dada altura parece realmente que doi, mas caramba... se aquele gajo ali à frente está a conseguir, porque raio não hei-de conseguir aquilo e mais um bocadinho?
E se formos saudáveis não há desculpa. Só há desculpa quando se entra na alta competição, mas vai daí... se lá chegarem, o caminho é bem claro! O 1º já andou atrás de alguem a dada altura.

Numa outra vida fui um atleta dedicado. Treinava muitas horas por dia. Os objectivos eram longinquos. Volta e meia pensava que não ia aguentar aquela 5a hora ou aqueles ultimos 5 km. Valeu-me a teimosia e o orgulho. Se doi agora, depois passa. Passa sempre. É isto que as pessoas esquecem quando fazem um arranhãozito. Epá, nem que seja daqui a um par de dias... tudo passa! Sorrindo e latindo. Respira-se fundo e muda-se o canal. Torna-se quase num prazer manter a compustura debaixo de dor.

Tive uma vez uma dor que não consegui controlar. Fiz uma luxação do fémur num acidente de mota. Os bombeiros na melhor das vontades esticaram-me as pernas e assim fiquei umas 3 horas. Nas urgências os ortopedistas estavam de volta de um sinistrado pior e não fui sequer triado decentemente. A dor era insuportável. Tanto que vomitei várias vezes sem controlo. De tempos a tempos o corpo comecava a tremer e a anca parecia explodir. Não havia uma posição de conforto e não fui anestesiado.
Era realmente grave e aquelas 3 horas de inoperância facilitaram uma necrose parcial. Percebi que apesar de tudo ainda não dominava completamente a dor. Mas também não fiquei traumatizado. Nesse dia, como nos outros, a dor acabou por passar. Não há que ter orgulho ou vergonha disso, apenas consciência.

2003-12-15

Ai Portugal, Portugal...

Estou num processo de compra de casa. Apesar de ter um mediador altamente competente, volta e meia tenho de participar com uma assinatura ou um cheque. Hoje tive de fazer um pouco mais que isso - foi necessário ir a um notário reconhecer umas assinaturas.
Encontrei um com optimo aspecto. Pouca gente. Fui atendido num instante. Capricho na assinatura. Empresto o meu BI. Observo o laborioso processo de carimbar e rabiscar os papeis onde assinei. Finalmente cobram-me 11 euro por casa assinatura. Aí está...
Saio do notário com a ligeira impressão de ter sido parte num disparate. Sou nitidamente o mais disparatado... o gajo que paga! Então no meio de mil taxas e burocracias, ainda tenho de pagar para assinar?!Quando ainda por cima aquilo é uma porcaria de um registo provisório (e nada provisório devia custar mais que um euro! Ainda vou escrever um paper teorizando esta lei básica da economia)! Que ridículo! Mais um autêntico assalto... E especulo quantas destas pequenas parvoíces terei eu já pago via mediador e quantas não faltarão pagar.
Dá-me ideia que em Portugal, no início dos tempos se encomendou um estudo de eficiência... e se fez tudo ao contrário. Mas sem ser de uma maneira muito óbvia! Uma espécie de Maxi-min da burocracia. Vamos escolher das piores alternativas, a melhorzinha que aparecer. E assim andamos.
Curiosamente tinham no notário afixada uma simpática propaganda anunciando: "Já viu o que ultimamente fizemos por si?" - louvando meia dúzia de melhorias marginais que implicavam sempre uma qualquer chatice.
Bom... uma bagunça! Perde tempo quem tem de se sujeitar a estas formalidades, perde-se capacidade produtiva por ter aqueles funcionários a fazer "nada", deslocam-se fundos tributados indevidamente para funções redundantes (retirando-os da economia de mercado... que a propósito, funciona!), estraga-se papel, ocupam-se espaços, mobiliário e recursos informáticos. No fim, edividam-se os nossos filhos para pagar este desperdício ano após ano. É criminoso! Pessoas que ainda não nasceram vão pagar por uma série de disparates governativos porque um dia eu precisei de assinar um papel! Que ainda por cima me foi escandalosamente cobrado! Portanto, ineficiências de várias ordens.
E de pensar que se abre uma empresa em Gibraltar no próprio dia por meia dúzia de Euros...

2003-12-14

Aborto

Votei a favor da despenalização da IVG. Já foi há uns anos e até muito recentemente não mudei de opinião. Achava uma violência que uma mãe fosse forçada a ter um filho que não queria. Pensava inclusive que isso impediria algumas familias infelizes e educações contrariadas. Os argumentos da vida não me comoviam - primeiro porque não acreditava na vida dentro da barriga, depois porque mesmo que existisse, punha-se sempre o problema do filho de um violador ou de uma criança deficiente. Para mim justificavam que se interrompesse a gravidez. A alternativa é que me parecia criminosa.
Quando soube que ia ser pai começei a ler sobre o assunto. Os livros sobre a gravidez estão normalmente divididos por meses e vão descrevendo a evolução da gestação, as curiosidades, os tamanhos, os pormenores. Houve um que me ficou retido na memória. Existe um exame pré-natal chamdo amniocintese. Consiste em retirar uma pequena amostra de liquido amniotico do interior da placenta com o auxílio de uma agulha. Diz o Papiernik que quando se espeta a agulha no saco amniotico o bebé foge para o lado oposto, sentido nitidamente o perigo e tentando proteger-se da picada. É provável mente o que eu faria se me tentassem picar e eu não soubesse se era para o meu bem... Passado uns dias vi a ecografia do meu bebé. Apesar de ter menos de 2 centimetros tinha já uma forma humana, e ouvi um coração que batia vigorosamente. Um coração que não devia ter mais de 2 milimetros de diametro, mas que batia por ordens superiores.
Quando se voltou a falar de aborto revi a minha posição. Não posso impedir outra vida porque me é conveniente. Principalmente uma vida inocente, fruto de um erro que lhe é perfeitamente alheio. E mais recentemente fiquei ainda mais convicto com o conhecimento destas imagens. Quem sinta desejo de as ver vou já avisando que são muito violentas e descritivas.
Continua por resolver o meu problema com a violação e com a deficiencia. Assumo que é vida e portanto devia ter os mesmos direitos que qualquer outro feto, mas não me parece justo obrigar uma mulher a ter um filho sem ter tomado qualquer parte nessa decisão, e inclusive essa gravidez ter sido fruto de um episódio tão traumático e selvagem. No caso de deficiencia, o peso que é assumir uma vida que sabemos a partida que vai trazer sofrimento aos pais e à criança, jovem e adulto. Um sofrimento que se podia ter minimizado, nunca eliminado bem entendido.

Bom, o aborto vai continuar a fazer-se clandestinamente e sem condições, é verdade... haverá muito a fazer para que haja menos abortos, tambem é verdade... mas não acho que o estado me deva tributar para tirar vidas. Que se eduquem as pessoas, que se ajuizem os jovens enquanto é tempo. A familia tem um papel fundamental. Infelizmente há muitas famílias deficientes e não funcionais em termos de educação, por isso... aposte-se na escola. Aposte-se na televisão. Aposte-se no que for preciso. Eu passei a acreditar que o aborto não se deve fazer a gosto.

Violência

Outro dia estava num Hiper da moda a fazer umas pequenas compras e reparo num casal com uma criança. Os adultos tinham um aspecto um bocadinho sujo e falavam um bocadinho alto. No carrinho levavam cerveja e mercearia. Muita cerveja, pouca mercearia. A criança era uma menina e estava ao colo do pai. Não lhe ouvi um piu mas reparei que apontava para os doces estrategicamente colocados ao pé da caixa. Do nada a mãe desata a bater na rapariga. Primeiro no rabo, depois na cara. Mas chapadas com força. A miuda não chorou nem mostrou qualquer desagrado. O pai manteve-se sossegado. Passados uns minutos a estória repetiu-se uma, outra e outra vez. Fiquei revoltado. Este casal em particular talvez não tenha muita culpa porque eram nitidamente ignorantes e escasseava-lhes o conhecimento, mas revoltou-me na mesma. Consegui nitidamente ver aquela mãe, 20 anos antes, ao colo do seu pai a levar na cara da sua mãe... Acho mofino que se bata numa criança, num idoso, num tontinho, ou em que é mais fraco só porque se pode e porque se perderam os argumentos. E sobre isto já ouvi de tudo! Que a criança é um terrorista - que às vezes uma palmada é necessária e até pedagógica - que o acumular de disparates às vezes não passa sem uma atitude diferente - que a criança simplesmente não responde senão à palmada.
Os argumentos não têm cabimento! No limite andariamos todos à pancada. As pessoas justificam-se com tudo menos com o seu próprio insucesso ou traumas de infância. É mais fácil, sem duvida, bater. Para aquela mãe foi facílimo enquanto batia na cara de uma miuda de 3 anos, convencida quiçá de estar a fazer o seu papel, e que isso ia eliminar o problema. Mas é que nem sequer vergonha teve! Toda a gente via e isso só lhe dava vontade de bater mais uma vez... tanto que me deu uma (quase) incontrolável vontade de intervir. Teria sido o mais fácil. Manda o mais forte. Não interessa quem tem razão nem interessa explicar essa razão. Vamos bater.
Vamos bater na criança que pede um doce, na criança que chora, na criança indisciplinada, no tontinho que faz muito barulho, no velhinho que fugiu e na mulher que chegou tarde a casa.
As vítimas da palmada de hoje serão os disciplinadores de amanha. Por pura negligência e preguiça. Porque custa parar um bocadinho para pensar, para perguntar ou para ler que outras soluções existirão. As crianças precisam de limites, ponto assente. Impor esses limites será inivitavelmente doloroso a dada altura. Fala-se um bocadinho mais alto, mostra-se uma cara mais séria, perde-se o sorriso. A isso junta-se o cuidado no tratamento dos comportamentos - os doces não se dão a pedido! Haja bom senso... Mas não batam na criança. Já nem os animais se educam assim...

2003-12-13

Mystic River

Vou ver Mystic River, o ultimo filme de Clint Eastwood. Gosto dos filmes dele apesar de não ser um die hard fan. Este não está mau.
Acho interessante a abordagem que faz à relação pai-filhos/filhas. É vista de uma mão cheia de angulos. A mais marcada cai inevitavelmente na necessidade de vingança contra a perda de um filho. O sentimento de protecção que se prolonga para depois da morte. A necessidade de encerrar o caso, de prestar uma ultima homenagem.
Não vou dizer o que penso acerca de vingar um filho (I plead the 5th), mas é um sentimento muito básico que convém explorar de vez em quando. Acho que faz parte do swing mental que devemos praticar. Se o caminho certo é estreito e instável, não é por isso que não o devemos provocar para um e o outro lado. O fio da navalha que os nossos avós invocam... Este filme explora o desafio que é manter o equilibrio no fio da navalha e como se perde sem se dar por isso.
A ver.

2003-12-12

Purga

Hoje o dia não está a correr grande coisa. Quando fico assim mal disposto põem-se duas alternativas muito claras: ir correr ou ir para a Fnac. Já me estive aqui a perguntar qual a que se melhor adptava. Fiz inclusive uma longa análise de prós e contras com as respectivas externalidades. Compilei umas linhas de código e deixei o computador a fazer iteradas enquanto fazia o almoço. O computador deidiu que eu devia ir correr. Obviamente... não vou! Está um frio lixado.
Vou portanto para a Fnac ser o pelintra de sempre que se senta a ler o que não vai comprar. Não tenho ponta de remorso... já lá deixei uma fortuna!
Mesmo assim não é bem o que me apetece fazer. Ler na Fnac dá-me realmente um certo gozo e costumo sentir-me melhor, mas hoje via-me mais a enfardar umas estreias seguidas - mas corro sempre o risco de uma não prestar e isso agravaria a minha situação.
Nitidamente a solução ideal, se possível, seria purgar 5% de massa encefálica. Os meus amigos Engenheiros concordariam instantaneamente que é uma solução higiénica e eficaz. Os outros merecem uma explicação. O conceito de purga é fundamental numa instalação química. Volta e meia aparecem contaminantes ou impurezas/inertes que circulam no sistema e que não podemos deixar acumular. Muitas vezes são materiais que não conseguimos, ou é muito caro, separar. Como têm de sair fazemos uma purga, que não é mais que uma torneira que abrimos, por onde sai o contaminante e obviamente, uma porção do nosso produto semi-transformado. Se considerarmos que o contaminante estava numa proporção de 1 para 100 no nosso fluxo, estamos a deitar fora 99 partes de uma coisa que tem valor para nos livrarmos de 1 parte de uma coisa que não tem valor e que pelo contrário tira valor.
Este conceito custa um bocadinho a interiorizar: então mas que raio? vou estragar isto tudo para me desfazer de um inerte? No diagrama de fluxo faz todo o sentido, e na vida real também... Muitas vezes para nos livrarmos de uma coisa má, temos de deixar ir muitas coisas boas, e assim de repente lembro-me do caso obvio de um namoro de faculdade.
Descontando as cicatrizes que ficam e que têm de ficar, a dada altura temos mesmo de nos livrar dos contaminantes e com isso vão muitas das boas recordações... às tantas, elas próprias fazem parte da contaminação. O próprio acto de limpar uma ferida ilustra essa situação - o sangue sai, e nem todo está sujo, mas nem por isso o podemos aproveitar.
Às vezes gostava de poder purgar certas coisas da minha vida e nem sempre tenho coragem. O risco de perder coisas boas assusta-me, e nunca sei se vou ficar melhor ou pior que antes.
Acabo por procurar optimos de Pareto em cada uma dessas decisões. Apenas mudarei para uma situação que ao melhorar o ponto A não piore o ponto B. Isto só prova que um Economista nunca será feliz... ;)

Menino ou menina?

Acho melhor falar um bocadinho sobre isto antes de saber o que vai ser por uma questão de honestidade intelectual.
Sinceramente é um assunto que não me tem preocupado muito. Tento não pensar nisso. Provavelmente não me é totalmente indiferente, mas aceito que não é uma coisa que se escolha. Não deve haver um sexo preferido, pelo menos no primeiro filho. Todas as teorias que se possam arranjar não passam de disparate. Exemplos para o provar não faltam.
Honestamente, sempre que no passado me imaginei como pai, e queria transportar-me para um acontecimento com um filho, era sempre um rapaz que lá estava. Desculpava-me com os sentimentos mais egoistas: Pois... com um menino eu posso ensinar mais coisas... o desporto, a condução, a coragem, a força, a dor, a piadinha sobre as meninas... enfim... se calhar é geral nos homens, quererem um amigalhaço parecido com eles. Tenho um amigo que vai um bocadinho mais longe e diz que na vida "um Homem só chora quando lhe nasce uma criança e ele finalmente lhe vê um badalo no meio das pernas". O meu amigo é um durão mas derrete-se todo com a sobrinha de 3 anos... Nunca soube lidar com esta minha subtil preferencia, tanto mais que sempre me disseram que tudo o que se ensina a um rapaz serve para uma rapariga. Não concordo totalmente. Igualdade para o que é igual. Mais que isso... logo se vê! Não me parece bem educar uma rapariga e um rapaz indiferenciadamente. O risco de lhe tirar feminilidade existe e é grave. Uma mulher é naturalmente mais sensível - nem me atrevo a pensar que conseguiria lidar com as suas dúvidas, inseguranças ou vaidade natural. Aliás... assusta-me a possibilidade de ter reacções que travem o seu desenvolvimento como mulher.
Felizmente existe a mãe que saberá lindamente o que fazer quando eu estiver sem solução. E imagino que haja uma série de ocasiões em que vou saber exactamente o que dizer e fazer, mas lá chegaremos.
Seja como for não estou à espera de um sexo em prejuízo do outro. Tive a felicidade de conhecer muitas mulheres que são fenomenais... inspiradoras mesmo. Posso sonhar com uma filha assim sem qualquer pudor. Por outro lado conheci homens que eram autenticos trastes... E aplica-se um raciocínio matemático simples - As pessoas nascem, e são em potencial, qualquer coisa entre o pior traste e o mais brilhante dos seres. Não existe um intervalo para homens e outro para mulheres. Queremos disfrutar dos nossos filhos e proporcionar-lhes os meios para que evoluam e encontrem o seu lugar, as suas vocações, as coisas de que gostam e as que não gostam, a possibilidade de conhecerem pessoas parecidas e diferentes, e as sementes do que as tornará pessoas mais ou menos felizes. Ora, eu estou convencido que uma boa parte dessa felicidade se pode ir buscar ao facto de se ter uma série de portas e janelas abertas para o mundo e outras tantas para dentro de nós próprios. O oposto serve melhor o vegetal. Muito disto consegue-se ensinar. Seja a um rapaz, seja a uma rapariga.

2003-12-11

Frustrações

Sou um profissional liberal, ganho mais do que devia, tenho muito tempo para ler. Perco-me no meio de livros sobre gavidez, crianças, pedagogia, filosofia e ciência política. Revistas à parva pelo meio. Blogs...
Os meus amigos trabalham como gente grande e não os posso incomodar com o meu instável conhecimento. A minha companheira idem.
É frustrante ter tanta coisa para discutir e não ter com quem discutir. É frustrante ter informação que não podemos utilizar. É furstrante formar opiniões e não ter como as pôr à prova.
Se tivesse esse poder obrigava os meus amigos a ler o mesmo que eu. Obrigava-os a ler os mesmos blogs e as mesmas revistas, e obrigava-os a discutir tudo comigo. Depois, leria de bom gosto tudo o que me dessem a ler para discutir mais um bocadinho.
Poucas coisas me dão tanto gozo como discutir ideias e autores. Disputar teorias... traçar argumentos. Faço-o por desporto se for necessário. Discuto um disparate e o seu oposto com igual desafio.
Frustra-me não poder discutir, mas também me frustra discutir contra o vazio. Não gosto de discutir assuntos que estudei com uma opinião sem fundamentos, ou por reflectir. Haja pragmatismo, mas haja curiosidade tambem.
Faço uma pausa e cai-me uma (boa) ideia ao colo. Vou depositar umas horas de bom senso no Banco do Tempo. descrevo o bem com alguma audácia e invoco Descartes deturpado à sétima casa. Aposto que lhe pegam!...

2003-12-10

Estado Civil

Este é um assunto delicado para mim. Cresci convencido que os casais bonitos têm um casamento bonito com a sua familia e os seus amigos bonitos. A partir dai acaba-se a incerteza. "Agora já está!", ouve-se muito... E consigo ainda hoje defender isto com cara séria... mas eu também defendo qualquer coisa - defeito profissional talvez...
Vejo muitas vantagens num casamento à antiga. Gosto do espírito implícito, a reunião, o ritual dos noivos, dos pais, dos convidados, a forma como as pessoas dignificam o dia com a sua presença e como se sentem dignificados com o convite. Continua a ser, diga-se o que se disser, um acto social de extrema relevância. E carrega consigo um peso enorme. Vergonha para quem não reflicta em profundidade o acto do seu casamento.
No entanto nem sempre corre bem. E essa possibilidade existe sempre - mesmo nos namoradinhos mais queridos, mais bem dispostos, mais apaixonados. Muitas vezes os casais têm um bonito casamento a seguir a um bonito namoro, mas corre-lhes mal a união. E o casamento acaba. Não interessa se formalmente ou não, mas o fim de um casamento é um falhanço... é o destruir de um sonho. O mais provável é alguem sair magoado e perder um bocadinho de fé na próxima união.
Parece-me que o que há em abundância de festas há em falta de casamentos espirituais. Não sou um especialista mas olho para muitos casais e não vejo brilho, não vejo intimidade, não vejo partilha e não vejo um projecto. Vejo que lhes é confortável estar juntos. Que se sentem protegidos pela festa. Que lhes fazia falta o reconhecimento da relação. Mas não vejo um casamento espiritual. Não os posso censurar por isso... censuro antes pela emulação, que é aliás, pretexto para momentâneamente se tornarem num casal em intimidade e sentimento grupal criticando o que é diferente, que não entendem e portanto não conseguem imitar.
Por outro lado um casamento espiritual dá muito trabalho... bom, não será trabalho, mas implica algum custo. O custo do investimento em sentimentos. O custo de arriscar a dor. O custo da fidelidade. O custo da felicidade.
Fazia tão bem que os casais se olhassem e falassem longamente de tempos a tempos. Que se sentissem desconfortáveis sempre que se passasse um dia sem namorarem. Que se tornassem exigentes com as suas relações.
E nada disto tira beleza à festa do casamento... pelo contrário - torna-a muito mais bonita. Nem que seja só para os noivos.
Voltarei a este assunto.

Bom dia

"Era só para te avisar que hoje estou um bocado mal disposta" - Ora Bolas! Logo hoje que eu me sentia especialmente romântico e generoso e te ia oferecer um belo jantar (podias inclusive beber um sumol e comer uma tarte de limão) e levar-te ao cinema!
Mas eu compreendo... numa outra vida estudei um bocadinho de Química e percebo o poder de uma hormona. Vou aproveitar para ler um par de Exame's que tenho atrasadas... Portanto amanha vais levar uma seca de Economia e Gestão. É um bom castigo!

2003-12-09

Nomes I

Acabei de assistir a uma apresentação onde um dos oradores se chama "Gregório". Que dizer?... Não concordo com a postura dos pais que acham que o nome de um filho é uma oportunidade de se exprimirem. Que escolham um nome que achem bonito parece-me bem, e aqui entrariamos na fértil discussão do gosto de cada um, mas não é disparate nenhum pensar como é que esse nome se enquadra na sociedade. Valerá a pena ser original? Não deveria ser dada prioridade à educação em conteúdo e forma, se o objectivo é fazer diferença e manter uma lembrança?
Brevemente prometo trazer uma mão cheia de nomes expressivos, fonte da minha indignação.
O Gregório safou-se bem. Mas faltava ali qualquer coisa realmente. Deixei a culpa para os pais.

2003-12-08

Uma prenda

Não é preguiça - é mesmo falta de tempo. Estou a ter um fim de semana de trabalho e fica difícil postar.
Mas sinto-me culpado... e vou deixar um link que tenho mantido em segredo. Um sítio onde vou muitas vezes banhar-me de sentimento e bom senso. É frequente comover-me com os escritos da Rita. São pensamentos poderosos... desabafos inspiradores... palavras de amor...
A Rita é Mãe e tenho aprendido muito acerca da experiência da progenitura.
A não perder.

2003-12-06

É triste II

Apanho de raspão um programa sobre a vida selvagem na SIC. Imediatamente me bate que tenho de vir adendar o meu último post. Os animais tomam conta das suas crias - regra geral sozinhos - algumas vezes em sociedade (macacos, leões e pouco mais). Não é por terem muito juizinho ou sentimentos que o fazem... é o instinto... é a lei máxima da natureza - uma aprendizagem enraizada na fauna, flora, e em qualquer bicheza microscópica que viva. Ninguém lhes pede para serem responsáveis. Eles não vão pedir ajuda a quem nunca conheceram. O que fazem, fazem sem se queixarem, sem se arrependerem e sem sentirem pena ou obrigação.
Os humanos também têm instinto. É a nossa intermitente capacidade de pensar que nos permite justificar muitas das nossas acções com a razão ou o sentimento. Até porque sabe bem masturbar o intelecto à procura de uma justificação. Pensar que não é nato, instintivo, incontornável... Faz-nos sentir melhor. Menos animais.
Somos inegavelmente animais - na fragilidade, nas reacções, nas necessidades.
Assim de repente não me sinto tão errado por querer proteger cegamente a minha famíla em prejuízo do complementar. Sabem... é o instinto!

2003-12-05

É triste

Esperei pela reportagem da TVI sobre a venda de uma criança no centro de Lisboa. Perdia-me agora a vomitar em cima da qualidade da peça e nos tristes cometários da (Brilhante! Ela é brilhante!...) Manuela Moura Guedes. Também me podia ofender com o aparente vazio legal acerca de ser ou não crime vender uma criança, mesmo que não seja com o propósito de a escravizar ou de abusar sexualmente dela. Mas acho mais importante falar da tristeza que é haver no mundo quem não se importe de deixar ir um filho em troco de conforto... E devo parecer inocente com esta minha indignação. Imagino que a vida não tenha sido doce para muitas e muitas famílas, de tal modo que certos valores que para a maioria de nós (que pode perder tempo a passear na internet) são evidentes, para eles não são tão evidentes.
Sinto uma enorme lacuna de conhecimento na área da psicologia, que estudarei com afinco logo que tenha tempo. Muito se explicará com o desvendar de certos fenómenos da mente. O porquê (e em que extensão) uma pessoa se pode tornar irracional e isenta de sentimentos (e venham mais 2 Damásios para explicar a mistura). Mas mesmo que não haja uma flagrante deficiência afectiva, há pessoas que têm uma vida tão miserável, que por vezes ponderam e executam a venda de um filho! Isto é inivitavelmente uma fonte de sofrimento e choca até certo ponto com as minhas ideias liberais. Posso tentar descansar-me com a fé de que no limite, as pessoas se terão de tornar responsáveis porque não há safety net ou há uma muito ténue. Mas isso não me descansa totalmente... daqui até ao limite vão-se passar demasiados anos, vão haver demasiados casos... e cada um desses casos é a semente de um mundo de problemas, se não sociais, pelo menos psicológicos de um ser perfeitamente inocente e de uma família desesperada.
Não tenho uma solução. À partida, não conheço ninguém tão desenraizado e sem recursos que alguma vez tivesse de vender um filho, mas se conhecesse provavelmente ajudava. Os meus amigos moderados diriam que eu posso ajudar, aliás... que todos podemos ajudar e que não custa muito porque são só mais 20 cêntimos a cada um. Depois para os velhinhos são mais 20 cêntimos. Para promover a cultura mais 20. Para beneficiar o interior do país outros 20. Para as estradas, para os hospitais, para as escolas, para a segurança, para ajudar os pescadores, os agricultores, as empregadas da fábrica de brinquedos, os desempregados... não me agrada o espírito da coisa. Acredito em sociedades abertas que deixam o mercado funcionar. Não há nada que nos faça falta que não estejamos dispostos a pagar. Para pagarmos teremos de acrescentar algo de positivo à sociedade. Isto funciona lindamente... não há incentivos para ficar fora deste sistema. Mas o sistema ainda não atingiu a massa crítica de funcionamento e enquanto não atingir temos um mundo de problemas para resolver. Ninguem se devia dispôr a ter um filho sem ter as condições para o criar minimamente. Comida, saúde, roupa e educação. Ter um filho não é um direito fundamental se não estivermos dispostos a providenciar isto de bom gosto e com responsabilidade.
No entanto continuo a ter pena daquela mãe...

Como disse?

Ultimamente é frequente ver a minha Mãe a ler os meus livros sobre gravidez. Acho saudável... apraz-me a ideia de proporcionar ao bebé uma avó moderna e por dentro da actualidade. Mas volta e meia ela pergunta: ai não se pode comer queijo? nem enchidos? e que estória é esta de não se poder mexer na carne crua? Mas isto das vitaminas é mesmo preciso? engordar só 12 kilos... mas como é que é possível?! E a cada pergunta morro um bocadinho por dentro! Então mas ela não sabia isto? Mas como raio é que eu apareço aqui com dois olhinhos, dois braçinhos, 3 perninhas e um nariz tão bonito? Não faz sentido! Foi só sorte ou os livros são desnecessários. Sorte não deve ser... a minha irmã saiu relativamente saudável também. Globalmente, as mães que tenho consultado estão um bocadinho por fora das fobias aconselhadas nos livros e isso exige alguma reflexão.
Tenho absoluta admiração e respeito pelos médicos. Sei que não falam (por sistema) do nada, e descansa-me terem conselhos para dar. É impossível que não se possa fazer nada para melhorar a saúde da mãe e do bebé. Por outro lado vejo que muita da ansiedade na gravidez vem precisamente dessa massa de informação extra que não se domina. Provavelmente, mesmo sem grandes conselhos e sofisticação, corre tudo bem. Melhor. Eu, por natureza, era incapaz de ficar simplesmente à espera. Não me revejo na máxima "Ignorance is a bliss". As preocupações a mais que tenho e que vou ter tomo-as como parte da experiência riquíssima que é planear e esperar uma criança. Talvez se torne mais fácil com o tempo. Mas também... quem é que quer fácil?!
E depois se a minha Mãe não sabia algumas coisas?! Sabia com certeza outras... Não falhe eu no que ela acertou...

Tanso...

Chegam as primeiras análises da minha grávida favorita. Vendo bem são também as primeiras análises do bebé e estou investido em compreende-las. Leio os valores, comparo inocentemente com a baliza. Procuro os valores lógicos... tudo negativo. Aparece uma dúvida... corro para os livros.
No final bate-me... o que é que eu percebo disto? Não fazia melhor enviar simplesmente para o médico? Pois claro que fazia... mas já dizia a minha brilhante Porfessora de Química no secundário: De médico e de louco... todos temos um pouco, e aí está um ditado com alguma razão de ser. Se leio sinto-me ignorante, se não leio não me sinto confortável.
Ler ou não ler... eis a questão.

De volta

Fui rude, como se pretende, e portanto voltei a ter acesso à net. Pena que em Portugal as coisas só funcionem à pancada ou por acidente. As excepções são isso mesmo... excepções! Por acaso gostava de saber quantas empresas (e organismos públicos) cultivam _realmente_ a excelência nos produtos e serviços... Entretanto, para quem queira saber, testei com sucesso a minha teoria que só nos ouvem realmente quando conseguimos reunir numa mesma frase: DECO, Inspecção Geral das Actividade Económicas e que estamos altamente motivados e temos recursos ilimitados.
Seja como for... estou de volta.

2003-12-03

Ausência

Tinha agendado escrever pelo menos um post por dia. Coisa impossível com o meu fornecedor de net em casa. A netcabo ainda não sabe operar em mercados exigentes, o que me ofende profundamente tendo em conta a pornografia que lhes pago todos os meses.
Logo que a situação se resolva retomarei a regularidade.
Entretanto tenho aproveitado para pôr a leitura em dia. Foi a minha segunda opção. Primeiro tentei trocar o tempo de net pela televisão mas dei por mim a ver o BB e fiquei atordoado com o banho de inteligência. Preciso de coisas mais levezinhas...

Faz-me graça...

Por favor visitar Zé Diogo Quintela e rir à parva com o seu post "Na Estrada" de dia 3/12/03. Tem tudo a haver com bebés...

2003-12-01

Inteligente

Visito um par de blogs antes de me ir embora. Sinto-me obrigado a linkar o Pedro relativamente aos seus posts de dia 28/11/03. O Pedro escreve vagamente sobre a Inteligência, e acaba por defini-la pelo contorno dos seus escritos mais do que pelas suas palavras. Ser inteligente é escrever como escreveu, mas também é pensar como pensou. Aliás... se calhar bastava ter pensado... simplesmente. Mas quem sou eu para falar disto?!... só estou para aqui a escrevinhar na minha folha de rascunho. Já o Pedro... merecia ser lido!

Impressões

Passo a tarde com um casal amigo. Orgulhosos progenitores de um puto muito à frente do seu tempo. Tem um aninho e pouco o rapaz. Conheci-o com 9-10 meses e já era um bebé muito divertido e bem disposto. Hoje estava igualmente simpático, mas evidentemente mais crescido, já diz uma palavras, já gatinha e quase anda, já aprendeu uma série de truques novos e nota-se no olhinho que já recebe as coisas de maneira diferente.
É fabuloso assistir à evolução, ainda que de uma forma discreta. Sentir a curiosidade a crescer... a vontade de fazerem mais coisas que comer, dormir e mudar a fralda.
Fico fascinado com o olhar expressivo, inquisitivo... e pergunto-me o que se deve fazer quando nos estão a tentar ler de uma forma tão honesta. Pondero levantar-me e começar a dançar... travo-me. Penso em falar com ele mas temo que ele queira mais que palavras. Procuro encontrar uma expressão que me defina o melhor possível, mas tenho de a traduzir para linguagem de bebé e dou por mim a fazer figura de urso e desinteresso a minha audiência. Cedo se estimula com outra coisa e daqui a 10 minutos logo olhará de novo para o senhor crescido para ver se dali sai alguma coisa interessante.
Invejo o bebé. A aprendizagem na ausência de preconceitos é a mais pura. Penso como poderei ajudar o meu bebé a manter não só essa pureza de espírito e rácio de aprendizagem, como protegê-lo dos perigos da inocência. Cedo desisto... a minha preocupação está toda ela viciada. O bebé continua a brincar e só eu é que estou travado no meu crescimento. Vou antes aprender qualquer coisa com ele.

Grávida, mas bonita fáxavor!

Corro vários centros comerciais à procura de uma ervanária que venda tinta para o cabelo à base de produtos naturais. Dizem os livros que não se recomenda o uso dos produtos normais pela presença de amoníaco, e de não se saber exactamente até que ponto isso poderá ser tóxico para o bebé. Desespero com a ideia de uma mulher TER ABSOLUTAMENTE de pintar o cabelo, com a procura da dita tinta e com o preço pornográfico que acaba por custar. Decido sugerir que se lave o cabelo da tinta antiga. É um disparate porque entretanto o sol já aclarou o cabelo e ele não retorna à cor inicial. Sugiro então que se pinte o cabelo da côr antiga e se deixe ficar. É um disparate porque esta tinta natural vai acabar por desaparecer com a lavagem e eventualmente nota-se que o cabelo não está homogéneo. E que tal não fazeres nada... são só 9 meses caramba! Sacrilégio! Sou praticamente espancado com o olhar.
Percebo que sou de um outro planeta.